BC atravessa 2023 sem leilões extras de dólar pela 1ª vez em 24 anos

Bolsa cai e dólar sobe em meio a dúvidas sobre queda de juros americanos

BC atravessa 2023 sem leilões extras de dólar pela 1ª vez em 24 anos
BC atravessa 2023 sem leilões extras de dólar pela 1ª vez em 24 anos

Brasília, Df (folhapress) - Nathalia Garcia - 10/01/2024 05:08:22 | Foto: Divulgação Banco Central

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O Banco Central atravessou 2023 sem ter realizado leilões extras de dólar em meio a um cenário de baixa volatilidade do real e de forte fluxo comercial. Essa foi a menor intervenção da autoridade monetária desde a adoção do regime de câmbio flutuante no país, em 1999.

A informação foi publicada pelo Valor e confirmada pela Folha de S.Paulo. No ano passado, o BC não registrou leilões extraordinários de contratos de swap cambial e conduziu apenas as rolagens integrais já previstas no cronograma ao longo dos meses.

Em uma operação chamada de "swap" (troca, em inglês), o BC opera com contratos financeiros. Nela, há simultaneamente a troca de taxas ou rentabilidade de ativos.

O objetivo é prover proteção contra variações excessivas do dólar em relação ao real (hedge cambial) e liquidez ao mercado doméstico.

A compra de contrato de swap pela autoridade monetária funciona como injeção de dólares no mercado futuro e quem compra está protegido em caso de desvalorização do real.

É um instrumento usado pelo BC para evitar disfunção no mercado de câmbio, assegurando que haja oferta para atender a um aumento de procura pela moeda estrangeira.

Em 2023, o BC também não efetuou compra ou venda de dólares no mercado à vista.

Nessa modalidade, a autoridade monetária vende reservas internacionais, sem compromisso de recompra, e o dinheiro é injetado no mercado. Foi uma alternativa mais recorrente no governo de Fernando Henrique Cardoso, durante o câmbio fixo.

A instituição também não promoveu novos leilões de linha no ano passado. Nesse caso, o BC também vende reservas internacionais no mercado à vista, mas com o compromisso de recompra em um prazo determinado.

Além de aliviar as pressões por demanda de dólar em momentos mais sensíveis, preserva o colchão financeiro por funcionar como uma espécie de empréstimo de moeda estrangeira.

Para Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, o BC não viu necessidade de fazer novos leilões ao longo de 2023 por causa do comportamento "um pouco mais benigno" do câmbio no ano. A cotação do dólar caiu de R$ 5,34 a R$ 4,84 na última temporada.

"Houve períodos de um pouco mais de volatilidade, mas não o suficiente para fazer com que o BC visse necessidade de fazer leilão para ajustar o valor da cotação", diz.

Ela ressalta o cenário mais positivo da economia brasileira ao término do ano, com recuo da inflação, ciclo de queda de juros e elevação da nota de crédito soberano do Brasil por agências de classificação de risco, o que colabora para um câmbio mais comportado.

Para Carlos Kawall, sócio-fundador da Oriz Partners e ex-secretário do Tesouro Nacional, a menor intervenção do BC é explicada principalmente pelo forte fluxo comercial de câmbio no mercado à vista, impulsionado pelo superávit recorde da balança comercial de quase US$ 100 bilhões.

"Não houve necessidade de o BC suprir adicionalmente o mercado spot [à vista] de linha durante ou mesmo ao fim do ano, como em anos anteriores. Ainda, houve ao longo do ano passado o vencimento de US$ 13 bilhões em linhas fornecidas ao final de 2022", diz.

O economista ressalta que o país está passando por mudanças estruturais, tendo o superávit comercial sido puxado pelo forte aumento dos volumes exportados de commodities agrícolas, minérios e petróleo.

"Ficamos, assim, menos dependentes dos fluxos financeiros. O déficit em contas correntes caiu de uma média de 3% do PIB [Produto Interno Bruto] nos últimos dez anos para cerca de 1,5% do PIB", afirma.

Ele admite surpresa com o cenário, ressaltando que não era esperado um superávit comercial tão expressivo como o realizado. "Foi um ano muito turbulento, mudança de regra fiscal, quebra de bancos nos Estados Unidos, guerra no Oriente Médio e forte alta dos juros de longo prazo nos EUA", diz.

De acordo com Reinaldo Le Grazie, sócio da Panamby Capital e ex-diretor do BC, o fluxo "muito positivo" de 2023 talvez tenha contrabalançado um movimento que vinha de anos anteriores e pesava na volatilidade do câmbio, como a desalavancagem -redução das dívidas- de grandes empresas, como a Vale.

Ele cita também como contribuição para "calmaria" o fim do overhedge cambial -proteção excessiva dos bancos em moeda estrangeira no exterior.

"Foi o suficiente para manter o mercado irrigado sem necessidade de o BC comprar dólar", diz. "Sempre que tem menos intervenção é bom para economia, principalmente para quem tem cabeça mais liberal."
Para 2024, os economistas consideram que a volatilidade do câmbio no Brasil dependerá da condução da política de juros do Fed (Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos) e de riscos geopolíticos no cenário global.

No ambiente doméstico, a trajetória das contas públicas é a principal preocupação dos economistas. Há ceticismo com a viabilidade da meta de déficit zero neste ano, como defendida pelo ministro Fenando Haddad (Fazenda).

"O risco é a nossa situação fiscal, que se fragilizou com o déficit e a dívida pública em alta", diz Kawall.

Quartaroli acrescenta que o país deve ter menor arrecadação de receitas neste ano com a projeção de crescimento menor do PIB. "Se a gente continuar aumentando o gasto e a conta fiscal não fechar, isso tende a ser um risco", afirma.

Sobre a atuação do BC para o cenário à frente, Le Grazie diz que é difícil descartar futuras interferências no caso de países emergentes, como o Brasil, que ficam mais sujeitos a variações cambiais.

"No pronto [mercado à vista] e em swap, não vejo mudança de atuação, de estratégia. Acho que houve uma mudança de comportamento em 2023 em função das condições de mercado. É difícil imaginar que a gente, daqui em diante, nunca mais vai ter de fazer intervenção", diz.

"Já no [leilão] de linha, ficou evidente que o mercado se ajeita e não precisa da participação do Banco Central", afirma.

Bolsa cai e dólar sobe em meio a dúvidas sobre queda de juros americanos

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O tom de cautela seguiu imperando no mercado brasileiro nesta terça-feira (9). A Bolsa brasileira caiu 0,73%, aos 131.446 pontos, e o dólar terminou o dia com valorização de 0,79%, cotado a R$ 4,906, enquanto investidores tentam alinhar apostas sobre o futuro da política de juros americana.

Nesta semana, são aguardados novos dados de inflação nos Estados Unidos e no Brasil, na quinta-feira (11), e o início da temporada de balanços corporativos americana, na sexta (12). Por enquanto, a agenda econômica segue esvaziada.

"O mercado está na tensão para os dados de inflação que sairão na quinta, que vão direcionar bastante esse movimento da Bolsa das próximas semanas", diz Lucca Ramos, sócio da One Investimentos.

Anderson Silva, chefe de renda variável e sócio da GT Capital, aponta que a queda do Ibovespa nos últimos dias também pode ser visto como movimento de correção após forte alta no fim de 2023.

"Quando estamos em uma tendência de alta, como a que estamos agora, toda e qualquer correção, além de ser saudável, é oportunidade para que possamos comprar mais ativos a preços mais baratos", diz Silva.

As maiores baixas do dia foram de empresas ligadas ao minério de ferro, que recuou nesta terça. Gerdau e CSN lideraram as perdas, e a Vale, empresa de maior peso do Ibovespa, caiu 1,26% e ficou entre as mais negociadas da sessão.

No câmbio, a alta do dólar foi influenciada por pronunciamentos recentes de membros do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), como aponta Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank.

"O mercado de câmbio está reagindo à postura um pouco mais conservadora por parte de alguns dirigentes do Fed, que vêm sinalizando que o ciclo de queda dos juros deve acontecer após março. Há algumas semanas o mercado tinha expectativa de que o Fed iniciaria essa queda de juros antes, e essa sinalização acabou trazendo um ponto de incerteza", afirma Quartaroli.

Na segunda (8), o presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse que, com a inflação ainda acima da meta de 2% do banco central dos Estados Unidos, sua tendência é defender que a política monetária permaneça rígida.

Quartaroli cita, ainda, que o baixo volume financeiro no início do ano também colabora para a alta da moeda americana.

No Brasil, investidores acompanharam as negociações em torno da MP que reonera 17 setores da economia proposta pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).

Nesta segunda, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Congresso Nacional, afirmou que quer conversar com Haddad antes de decidir se vai devolver ou não o texto. Parte dos líderes do Senado pediu a Pacheco, em reunião nesta terça, que o texto seja devolvido de forma integral e que os temas sejam debatidos por meio de projetos de lei.

"A desoneração da folha de pagamento é algo que foi decidido pelo Congresso Nacional de forma muito convicta, muito consciente. Gera, naturalmente, impacto de arrecadação, que é uma renúncia de receitas, mas, por outro lado, gera impacto extraordinário de geração de empregos", disse Pacheco.

Na segunda (8), frentes parlamentares como a do empreendedorismo e a da agropecuária pediram a Pacheco a devolução da MP, afirmando que o Congresso recentemente já deliberou sobre o tema, e em sentido contrário ao proposto pelo governo.

Cotação das moedas

Coroa (Suécia) - 0,4765
Dólar (EUA) - 4,8937
Franco (Suíça) - 5,7438
Iene (Japão) - 0,03391
Libra (Inglaterra) - 6,2179
Peso (Argentina) - 0,006009
Peso (Chile) - 0,005331
Peso (México) - 0,2887
Peso (Uruguai) - 0,1244
Yuan (China) - 0,6828
Rublo (Rússia) - 0,05456
Euro (Unidade Monetária Europeia) - 5,3434

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