Brasil desmatará 46 campos de futebol por mês para suprir carros elétricos da UE

O estudo estima que a demanda média anual por metais para esses veículos na UE será de aproximadamente 23 milhões de toneladas por ano até meados do século.

Brasil desmatará 46 campos de futebol por mês para suprir carros elétricos da UE
Brasil desmatará 46 campos de futebol por mês para suprir carros elétricos da UE

Geovana Oliveira, São Paulo, Sp (folhapress) - 11/05/2025 09:56:36 | Foto: © POLÍCIA FEDERAL/GOV.BR

O Brasil perderá uma área florestal correspondente a 46 campos de futebol por mês nos próximos 25 anos, ou seja, 13,9 mil hectares, para abastecer a demanda por EVs (veículos elétricos) na União Europeia, se o mercado continuar como está, indica estudo publicado nesta quarta-feira (7).

O relatório, encomendado pelas organizações Fern e Rainforest Foundation Norway, foi lançado durante o Fórum da OCDE sobre mineração responsável.

Os EVs, que são movidos a bateria e não utilizam combustível fóssil, são considerados centrais para que a UE cumpra o Pacto Verde Europeu (Green Deal, em inglês) e alcance a neutralidade de emissão de gases do efeito estufa até 2050.

Para que funcionem, porém, as baterias precisam de minerais que armazenem a eletricidade utilizada pelo motor. Lítio, cobre, níquel, cobalto, bauxita, ferro, fosfato e manganês estão entre os chamados minerais críticos para a transição energética.

O estudo estima que a demanda média anual por metais para esses veículos na UE será de aproximadamente 23 milhões de toneladas por ano até meados do século.

Para projetar o desmatamento que será causado no processo, os pesquisadores consideraram a supressão de floresta -área com vegetação maior que cinco metros- que ocorre durante o processo de extração dos minérios de cobre, níquel, cobalto, bauxita e manganês.

As baterias movidas a lítio, níquel e cobalto (NMC 811) dominam o mercado europeu. Caso isso se mantenha até 2050, seriam destruídos 118 mil hectares de florestas em todo o mundo para suprir a demanda da Europa pelos EVs, segundo o estudo. O número equivale a 18 campos de futebol de floresta sendo devastados por dia pelos próximos 25 anos.

Os pesquisadores projetaram o desmatamento causado pela mineração em três diferentes cenários. No primeiro, os EVs utilizam diferentes tecnologias de bateria; no segundo, todos os veículos utilizam baterias NMC 811; e no terceiro, todos utilizam baterias movidas a lítio, ferro e fosfato (LFP).

Nos dois primeiros, a Indonésia seria o principal país prejudicado (com 42% e 63% do desmatamento), seguido pelo Brasil (18% e 11%). No terceiro quadro, o Brasil (36%) seria o país mais prejudicado e a Indonésia não participaria. Em todos os cenários, a Europa sofreria com menos de 1% do desmatamento.

"Não há dúvida de que precisamos de uma transição sustentável no setor de transportes", disse Perrine Fournier, ativista do grupo Fern, que atua na área de ambiente e direitos. "Mas precisamos garantir que isso não aconteça às custas das florestas do mundo e das pessoas que vivem nelas."
Conforme o relatório, 54% dos minérios de transição no planeta estão localizados em territórios indígenas ou nas suas proximidades. Se forem incluídas as comunidades de agricultura familiar, esse número sobe para 70%.

"A mineração também provoca deslocamentos e reassentamentos. Comunidades vulneráveis estão sendo removidas devido à expansão da mineração sobre terras e outros recursos naturais dos quais dependem -especialmente a água", diz o relatório.

O objetivo do estudo, porém, é mostrar que essa projeção pode ser evitada. Segundo os autores, a adoção de tecnologias de bateria alternativas e a implementação de novas medidas de mobilidade reduziriam drasticamente a necessidade de minerais usados na transição energética.

A estimativa de desmatamento no relatório sai de 118 mil para 21,3 mil hectares quando é imaginado um cenário onde o uso de baterias LFP mais inovadoras é aliado ao aumento do uso de caronas, compartilhamento de carros, microcarros e uma redução no número total de quilômetros percorridos por passageiros.

O projeto Excluídos do Clima é uma parceria com a Fundação Ford.

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