Câncer de vulva e vagina mata quase 600 mulheres entre janeiro e setembro de 2025

Câncer de vulva e vagina mata quase 600 mulheres em 2025

Câncer de vulva e vagina mata quase 600 mulheres entre janeiro e setembro de 2025
Câncer de vulva e vagina mata quase 600 mulheres entre janeiro e setembro de 2025

Laiz Menezes-são Paulo, Sp (folhapress) - 29/12/2025 18:08:40 | Foto: Agência de Notícias da Aids

O estigma em torno do HPV (papilomavírus humano) -vírus transmitido principalmente por via sexual, mas também por contato pele a pele- ainda afasta muitas famílias da vacinação e pacientes dos consultórios médicos, alertam especialistas. A resistência preocupa porque o HPV é o principal causador dos cânceres de vulva e vagina, que levaram a 597 mortes no SUS (Sistema Único de Saúde) entre janeiro e setembro de 2025.

No mesmo período, segundo o Ministério da Saúde, foram registrados 16.559 atendimentos ambulatoriais e 2.161 internações relacionadas aos tumores. Os números correspondem a procedimentos, não a pessoas, e não há dados sobre diagnósticos. Apesar dos registros, o estigma ainda faz com que muitas pessoas deixem de buscar ajuda.

Para Caetano da Silva Cardial, oncologista da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações em Ginecologia e Obstetrícia), "todo tumor ligado ao HPV carrega um preconceito importante". Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), porém, 4,5% de todos os cânceres no mundo (630 mil novos casos de câncer por ano) são atribuíveis ao vírus.

Entre 2022 e setembro de 2025, foram registradas 1.964 mortes por câncer de vulva no Brasil. O Sul concentra alguns dos maiores índices, com 400 óbitos, enquanto o Norte teve 75. São Paulo lidera entre os estados, com 521 mortes. Segundo Cardial, parte da discrepância pode refletir o fluxo de pacientes em busca de tratamento em regiões mais estruturadas.

No mesmo período, o país contabilizou 593 mortes por câncer de vagina, sendo 147 delas em 2025 até setembro. A região Sudeste concentra a maior parte dos óbitos.

Apesar de serem confundidas com frequência, a vulva é a parte externa da genitália feminina, formada por pele e pelos, enquanto a vagina é uma mucosa interna que conecta a vulva ao colo do útero. Segundo Cardial, existe uma confusão entre os termos que é comum não só no Brasil, mas no mundo.

O câncer de vulva é considerado um tumor raro de pele e tem duas principais origens: o HPV, mais comum em mulheres entre 45 e 55 anos, e uma doença autoimune chamada líquen escleroso, que costuma afetar mulheres pré-adolescentes e pós-menopausa, com pico após os 60 anos.

O líquen escleroso não tem causa única definida, mas especialistas apontam que ele está ligado principalmente a um mecanismo autoimune, quando o sistema imunológico passa a atacar a própria pele. Fatores hormonais (como baixos níveis de estrogênio), predisposição genética e traumas repetidos na região também podem contribuir para o surgimento da doença.

A doença causa coceira persistente e, sem tratamento, pode evoluir para câncer em até 60% dos casos, afirma o oncologista. Com acompanhamento e uso de pomadas à base de corticoide, o risco cai drasticamente.

Os sintomas da doença costumam ser inespecíficos: coceira, feridas, úlceras, sangramento ou mudança na cor da pele da região. Por serem queixas comuns a outras condições, muitas mulheres demoram a procurar atendimento. Os sinais também se confudem com os do tumor, que costumam aparecer nos estágios mais avançados do câncer.

Quando identificado no início, com tumores menores que 2 cm e sem linfonodos comprometidos, a chance de cura do câncer de vulva é alta com cirurgia. Nos estágios avançados, quando já há metástase, o tratamento inclui radioterapia e quimioterapia, e a taxa de cura é reduzida.

O câncer de vagina é ainda menos frequente, com cerca de 500 casos por ano no Brasil, e tem como causa o HPV em 90% dos casos, diz Cardial. Ocorre mais frequentemente entre 40 e 50 anos, enquanto as lesões precursoras podem aparecer já a partir dos 30 anos.

Como a vagina é um órgão com rugas e pregas, lesões podem ficar "escondidas". Muitas mulheres são assintomáticas até que o tumor cresça, quando podem surgir nódulos internos, dor ou sangramento durante a relação sexual, além de sangramento fora do período menstrual.

Tumores menores que 2 cm e restritos à mucosa podem ser curados com cirurgia. Já os tumores mais profundos ou maiores geralmente exigem radioterapia associada à quimioterapia.

O especialista explica que, por serem mulheres mais jovens, o impacto na fertilidade e na vida sexual costuma ser maior que no câncer de vulva. A radioterapia pode reduzir a função ovariana, causar ressecamento, atrofia e até estenose vaginal (estreitamento ou encurtamento do canal vaginal), caso a paciente não mantenha atividade sexual ou não utilize moldes durante o tratamento.

Tanto no câncer de vulva quanto no de vagina, o diagnóstico precoce é decisivo. O médico reforça que mulheres, especialmente as pós-menopausa, devem procurar atendimento se tiverem coceira persistente por mais de duas semanas, feridas, sangramentos anormais ou alterações visíveis na vulva.

Rosana Richtmann, infectologista do laboratório Delboni Salomão Zoppi e Lavoisier, destaca que o Brasil avançou no rastreamento dos dois cânceres ao incluir testes moleculares de HPV na rede pública.

"Eles são muito mais sensíveis que o papanicolau [exame usado para identificar lesões no colo do útero, como as causadas pelo HPV]. O objetivo é detectar o vírus precocemente para impedir que lesões progridam para câncer."
Vacina contra HPV é principal preveção ao câncer de vulva e vagina
Richtmann afirma que a vacinação é a melhor forma de prevenir o câncer de vulva e vagina. Segundo ela, quanto mais jovem, melhor a resposta imunológica e menor a chance de já ter tido contato com o vírus. A vacina quadrivalente, oferecida na rede pública, protege contra os tipos 6, 11, 16 e 18. A versão nonavalente, disponível na rede privada, amplia essa cobertura.

Especialistas apontam que muitas famílias ainda evitam vacinar os filhos por acreditarem, de forma equivocada, que a imunização poderia incentivar o início da vida sexual. Para a médica, o estigma também faz com que os jovens, ao perceberem algo diferente na região íntima, sintam vergonha de comentar com os pais ou de buscar ajuda médica.

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