A Morte do Plano Piloto , Não-dito e Poesia do Munturo são algumas das exposições
Por Tarcila Rezende - Correio Braziliense - 27/02/2019 16:37:11 | Foto: Marcelino Cruz-Divulgação
Para quem não gosta da folia de carnaval, Brasília também oferece outras opções culturais para curtir o feriado. Algumas exposições com artistas brasilienses e de outros estados propõem observações, reflexões e diálogos em obras expostas em galerias do Setor Comercial Sul, que ficarão disponíveis para visitação durante todo o feriado.
No Museu Correios, a mostra do artista piauiense radicado em Brasília Marcelino Cruz Poesia do Munturo reúne cerca de 50 obras, abrangendo pinturas, colagens e impressões, além de um audiovisual e a reprodução do ateliê do artista, até 12 de maio.
O artista — influenciado por um ideário em que mescla elementos do expressionismo e da abstração informal — impregna a obra da atmosfera modernista presente no universo representado pela simbologia de Brasília. Assim, se evidencia a alusão que faz ao Plano Piloto, de Lucio Costa, do qual retira elementos como os suaves entrelaçados das “tesourinhas” ou símbolos presentes na arquitetura da capital, como os “cobogós”.
A gênese da obra também remete à expressão “munturo”, forma coloquial da palavra monturo, que indica o local das casas no interior do Nordeste em que se descartam os restos de materiais do cotidiano. O título, definido pelo artista, também é uma referência às memórias de sua infância. “Minha poética é suja. É excesso. Linha, cor e forma se fundem, e tudo pode ser figurativo, geométrico e abstrato ao mesmo tempo”, comenta Marcelino.
Marcelino Cruz, natural de União, no Piauí, é arte-educador, com habilitação em artes plásticas pela Universidade de Brasília (UnB) e é professor de artes na rede pública do DF. Suas obras foram expostas em Paris, Amsterdam, Haia, Budapeste, Helsink e Bogotá e em várias capitais brasileiras.
A massa indignada
A partir do registro de manifestações políticas, a artista pernambucana Ana Lira captou a insatisfação da população que vai às ruas, e reuniu, na exposição Não-dito, pichações, cartazes de campanha eleitoral vandalizados, pinturas, santinhos e o que mais tiver de expressão de sentimento de indignação. “As pessoas depositam a raiva nos cartazes de campanha eleitoral e escrevem coisas que elas gostariam de dizer aos políticos. Muitas rasgam o rosto dos políticos. É um rasgo de muita violência. E aí você vai desenvolvendo um processo de leitura crítica de imagem”, revela ao Correio.
A exposição reúne 39 fotografias, cinco obras e um mural. O nome da exposição, Não dito, remete à ideia de políticos colocarem para debaixo dos panos os malfeitos dos colegas. “O nome tem a ver com o processo vivido dentro do contexto político eleitoral, no qual todo mundo sabe que acontece, mas ninguém assume isso publicamente. Aí, uma dessas linhas é o processo de compra de votos, que ocorre em diversas camadas sociais”, explica a artista.
A Brasília, a fotógrafa também trouxe retratos de manifestações das mulheres negras em Recife, bilhetes que pessoas distribuem nos ônibus pedindo dinheiro em nome de Deus e da família, por conta do desemprego. “Para mim, no auge da crise econômica, o número de pedintes aumenta muito. Trouxe os desdobramentos desses processos crise e algumas interpretações simbólicas que acho que são delicadas do cotidiano motivados pelo descuido do poder público”, comenta. Ana Lira exibe gratuitamente os registros na Casa da Cultura da América Latina da Universidade de Brasília (CAL/UnB). Em cartaz até 4 de abril.
Já coletivo Terra tem feito reflexões de descontinuidade sobre a lógica de pacificação, neutralização e homogeneização existencial. E isso é uma das diretrizes da Terra, que ocupa a galeria de Bolso da CAL, com a exposição A Morte do Plano Piloto, até 2 de abril.
Composta pela obra Monumento ao homem branco e uma videoinstalação homônima ao nome da exposição, de acordo com as artistas, a mostra A morte do Plano Piloto é uma anunciação da destruição dos sonhos injustos da branquitude.
Em 2016, a obra o Monumento ao homem branco, que faz parte da mostra, permaneceu um mês em estado de composição/decomposição no Museu de Arte Contemporânea Dragão do Mar, no Ceará, quando foi articulado com ações de diversas outras coletividades implicadas em ações antirracistas. As integrantes do Terra contam que foi uma experiência bastante complexa por se tratar de uma situação que gera tensão e provocação e suscitou diferentes tipos de implicação nas pessoas que resolveram seguir a orientação dada na exposição.
Uma das denúncias sociais que a instalação discute o que aconteceu com o jovem negro Rafael Braga, catador de materiais recicláveis que, em 20 de junho de 2013, foi detido por policiais no Rio de Janeiro quando saía do local onde morava com duas garrafas de plástico, uma de pinho sol e outra de água sanitária. Rafael foi o único condenado pelas imensas manifestações de 2013. A exposição também rememora os 60 anos da chacina de trabalhadores no alojamento da Pacheco Fernandes Dantas, que aconteceu em fevereiro de 1959, na Vila Planalto, durante a construção de Brasília.
A Terra é formada por artistas/escritoras/curadoras que buscam, a partir da formação do bando, articular as possibilidades de dissolução da autoria e experimentar as potencialidades da realização coletiva.
A Morte do Plano Piloto
Galeria de Bolso da Casa da Cultura da América Latina da UnB (CAL). SCS Quadra 4, Edifício Anápolis. Visitação: diariamente, das 9h às 19h, até 2 de abril. Entrada franca. Classificação indicativa livre
Não-dito
Acervo da Casa da Cultura da América Latina da UnB (CAL), SCS Quadra 4, Edifício Anápolis
Visitação diariamente, das 9h às 19h, até 4 de abril. Entrada gratuita. Classificação indicativa livre
Poesia do Munturo
Museu Correios, Setor Comercial Sul, Quadra 4, Bloco A Edifício Apolo. De terça à sexta, das 10h às 19h, e sábados, domingos e feriados, das 14h às 18h. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Comentários para "Confira programações culturais para quem quer fugir do carnaval":