Eleições na Bolívia: Cresce tensão no país após vantagem questionada de Evo Morales

Oposição fala em fraude e protesta nas ruas do país; Carlos Mesa convoca ‘mobilização cidadã’ até que seja divulgado o resultado definitivo

Eleições na Bolívia: Cresce tensão no país após vantagem questionada de Evo Morales
Eleições na Bolívia: Cresce tensão no país após vantagem questionada de Evo Morales

Estadão Conteúdo - 22/10/2019 19:08:09 | Foto: Pública

Os resultados parciais na Bolívia estão a ponto de confirmar nesta terça-feira, 22, a vitória do presidente Evo Morales em primeiro turno nas eleições, mas a oposição denuncia fraude e protesta nas ruas do país, enquanto os observadores internacionais questionam a repentina vantagem do chefe de Estado. A Organização dos Estados Americanos convocou uma reunião sobre a crise.

Após uma segunda-feira violenta, quando manifestantes atearam fogo em urnas de votação e sedes eleitorais, a oposição, sindicatos, organizações empresariais e cidadãos organizavam novos protestos para esta terça.

As mobilizações nas ruas começaram quando as autoridades eleitorais, sem explicação alguma, retomaram na noite de segunda a recontagem de votos que foi interrompida no dia anterior.

A recontagem rápida (TREP - Transmissão de Resultados Eleitorais Preliminares) deu a Evo 46,87% dos votos e a seu rival, Carlos Mesa , 36,73%, com cerca de 95,30% das urnas apuradas.

Para Entender

Evo Morales, uma raposa política com dificuldades para se manter no poder

Presidente latino-americano há mais tempo no cargo busca quarto mandato em uma eleição difícil

No poder desde 2006, Evo está a ponto de evitar um segundo turno e ser reeleito.

Segundo a Constituição boliviana, o vencedor em primeiro turno precisa obter 50% mais um dos votos válidos ou ao menos 40% do total com vantagem de 10 pontos porcentuais sobre o segundo colocado.

Em Sucre (sudeste) e Potosí (sudoeste), os manifestantes atearam fogo em tribunais eleitorais. Em La Paz foram registrados choques com a polícia, enquanto o gabinete do partido governante Movimiento Al Socialismo (MAS) sofria ataques em Oruro (sul).

Os incidentes também chegaram às cidades de Tarija (sul), Cochabamba (centro) e Cobija (norte), onde a polícia agiu para dispersar os manifestantes. Em Riberalta, no Departamento de Beni (noroeste), uma estátua do ex-líder venezuelano Hugo Chávez, aliado de Evo e morto em 2013, foi destruída.

Novos protestos

Para esta terça, a mobilização deve ser maior e mais organizada. O sindicato de médicos, que manteve greve de mais de um mês por reivindicações trabalhistas, anunciou ações em todo o país.

Fernando Camacho, presidente do poderoso Comité Pro-Santa Cruz, um coletivo que reúne de empresários a associações de bairros, pediu um “bloqueio do país”.

A influente plataforma civil Conade, que agrupa comitês cívicos bolivianos, anunciou também uma “resistência civil” ante a possível vitória de Evo. O líder Waldo Albarracín, que recebeu um golpe na cabeça durante uma briga de rua com oficiais, denunciou uma “fraude monumental” e convocou “o povo a ficar em alerta”.

Ante o clima de violência, a Igreja Católica pediu “paz e serenidade” e pressionou o tribunal eleitoral do país “a cumprir com seu dever de árbitro imparcial”.

Vantagem questionada

A vantagem de Evo foi questionada pelos observadores da Organização de Estados Americanos (OEA), que chegaram à Bolívia para monitorar as eleições presidenciais e legislativas realizadas no domingo.

“A missão da OEA manifesta sua profunda preocupação e surpresa pela mudança drástica e difícil de justificar com relação à tendência dos resultados preliminares conhecidos após o fechamento das urnas” no domingo, e que estavam orientados a um segundo turno entre Evo e Mesa, disse em um comunicado.

O TREP paralisou a divulgação da apuração dos votos no domingo depois de um relatório inicial e único de contagem rápida de 84% das atas que dava 45,28% dos votos a Evo e 38,16% a Mesa, dados que indicavam um segundo turno no dia 15 de dezembro.

Mesa pede mobilização

Carlos Mesa, que foi presidente da Bolívia de 2003 a 2005, denunciou “fraude” e anunciou que não iria reconhecer os resultados provisórios.

Para Entender

Carlos Mesa, um velho conhecido da política boliviana

Historiador e jornalista de 66 anos era um ‘outsider’ no cenário político, mas se viu no olho do furacão em momentos determinantes da história do país

“Não reconheceremos esses resultados que são parte de uma fraude consumada de maneira vergonhosa e que está colocando a sociedade boliviana em uma situação de tensão desnecessária”, afirmou Mesa na noite de segunda-feira.

Mesa, historiador e jornalista de 68 anos, convocou uma “mobilização cidadã” até que seja divulgado o resultado definitivo.

O ministro do Governo (Interior), Carlos Romero, responsabilizou Mesa pelos protestos. “Não se deve convocar à violência e ao confronto, isso não é uma atitude democrática”, ressaltou.

Os Estados Unidos expressaram sua preocupação e pediram o retorno da “credibilidade e transparência” ao processo eleitoral na Bolívia, pedido ao qual se juntaram também os governos da Argentina, do Brasil e da Colômbia. / AFP

Comentários para "Eleições na Bolívia: Cresce tensão no país após vantagem questionada de Evo Morales":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório