Petrobras avisa que começou a perfuração na Foz do Amazonas no mesmo dia de autorização
Gabriel Gama, São Paulo, Sp (folhapress) - 21/10/2025 20:53:35 | Foto: Reprodução Enrico Marone / Greenpeace
A licença concedida pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a perfuração na bacia da Foz do Amazonas prevê que uma nova modelagem de dispersão de petróleo no oceano, que simula o vazamento em caso de acidentes, seja feita a cada ano.
Ambientalistas criticam que uma nova versão não tenha sido entregue antes da autorização dada para a pesquisa no chamado bloco 59, concedida nesta segunda (20).
A autorização emitida à Petrobras determina que a empresa apresente um relatório anual com "uma nova modelagem de dispersão de óleo utilizando a nova base hidrodinâmica elaborada para a margem equatorial".
A exigência é uma das 34 condicionantes para a atividade da petroleira no poço localizado a 175 km da costa do Amapá.
"O Ibama está permitindo testes, que já trazem um impacto à região, com a condição de que uma nova modelagem seja feita. Ou seja, essa modelagem não serve, deveria ser refeita antes de autorizar a licença", diz Nicole Oliveira, diretora-executiva do Instituto Internacional Arayara.
Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, afirma que as análises não tiveram a robustez necessária.
"Na etapa atual, a questão do acidente na perfuração é o principal problema a ser avaliado. Se eles mesmos reconhecem a necessidade de uma nova modelagem, não poderiam ter liberado a licença", declara Araújo, que também presidiu o Ibama de 2016 a 2018.
Em nota, o Ibama afirma que as modelagens foram validadas e que a condicionante se refere a uma atualização: "Tal solicitação visa avaliar a aderência dos resultados decorrentes da utilização das novas bases aos já aprovados durante o licenciamento".
Nicole Oliveira afirma que o órgão ambiental focou o processo de autorização no centro de fauna atingida por um eventual vazamento de óleo e colocou a modelagem em segundo plano.
"É uma região em que as correntes marítimas são totalmente diferentes de outros locais no litoral brasileiro. O nível do mar eleva 7 metros, 17 metros, em um período de horas ou semanas. Todas as características oceânicas e do próprio sistema recifal são muito únicas e sensíveis para se explorar sem os estudos adequados", diz.
O Ibama declara que o licenciamento envolveu todos os passos exigidos, e o Ministério do Meio Ambiente diz que a autorização "resulta de um rigoroso processo de análise ambiental".
Daniela Jerez, advogada do Greenpeace Brasil, afirma que a modelagem é essencial para avaliar o plano de emergência da Petrobras.
"Existe uma enorme incoerência técnica na aprovação da atividade de perfuração do bloco 59, demandando que após o seu início se apresente uma nova modelagem usando uma base hidrodinâmica que hoje já está concluída", diz.
Petrobras avisa que começou a perfuração na Foz do Amazonas no mesmo dia de autorização
JOÃO GABRIEL, BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - A Petrobras começou a perfuração do bloco 59 da bacia de petróleo de Foz do Amazonas no mesmo dia em que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) emitiu a licença para a operação.
A informação consta em um ofício enviado pela petroleira ao órgão nesta terça-feira (21), ao qual a Folha de S.Paulo teve acesso, e também foi confirmada à CNN Brasil pela própria empresa.
No documento, a Petrobras diz que "a perfuração do poço exploratório [...] teve início em 20/10/2025", com referência à última segunda-feira. Não foi informado o horário de início da operação.
Esse foi o mesmo dia em que foi publicada a Licença de Operação para a empresa realizar a pesquisa por petróleo no local. A assinatura do presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, aconteceu às 12h14, no horário de Brasília, segundo consta no sistema.
Procurados para explicar como a perfuração começou tão rapidamente, nem a petroleira nem o órgão ambiental responderam.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o parecer técnico do Ibama cita riscos a peixes-boi ameaçados de extinção e lembra que a AGU (Advocacia-Geral da União) permitiu que o processo de licenciamento ignorasse os impactos a povos indígenas.
O documento cita não haver óbices ao empreendimento, desde que respeitadas 34 condicionantes (dentre elas, planos de proteção à fauna, à flora e de resposta a emergências). Também são exigidos R$ 39,6 milhões em compensações ambientais.
Durante o processo de licenciamento, um dos principais entraves foi a capacidade da Petrobras de responder devidamente a vazamentos e outros possíveis problemas.
No parecer técnico final, o Ibama destaca que o principal barco de apoio a emergências, que ficará no Pará, poderia demorar 55 horas para chegar ao local, mas que uma unidade mais rápida destacada pela empresa poderá fazer um primeiro atendimento em 26 horas.
Comentários para "Em licença da Foz do Amazonas, Ibama aponta que previsão para acidente com óleo terá que ser atualizada":