De acordo com o legista, o homem teria morrido de hemorragia interna
São Paulo, Sp (folhapress) - 09/11/2025 19:21:38 | Foto: Embaixada da Argentina
Os filhos do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior, o Tenório Jr. receberam a certidão de óbito do artista, morto às vesperas da ditadura militar na Argentina.
O documento foi emitido em setembro pelo Registro de las Personas de Buenos Aires, órgão responsável por emitir documentos de identificação, após uma ordem do juiz Mariano Llorens, da Câmara Nacional de Apelações. Em outubro, o documento foi enviado aos familiares de forma digital. A versão física deve ser enviada ainda neste ano.
Em 1976, foi emitida uma certidão de óbito atestando a morte de um homem não identificado. O atestado dizia que o corpo fora encontrado numa região erma de Don Torcuato, nos arredores de Buenos Aires.
De acordo com o legista, o homem teria morrido de hemorragia interna provocada por um disparo de arma de fogo. O cadáver foi enterrado sem identificação em um cemitério de Buenos Aires.
Já em setembro deste ano, a Equipe Argentina de Antropologia Forense (EAAF) confirmou que os restos mortais do homem não identificado são do pianista brasileiro. De acordo com a EAAF, não há possibilidade de recuperar o corpo, pois os restos mortais foram identificados através de registros e evidências forenses.
Após a descoberta, a certidão de óbito emitida na década de 1970 foi retificada com as informações do artista.
O corpo foi reconhecido por meio de impressões digitais, confirmando que a morte ocorreu dois dias após o sequestro, em 18 de março de 1976.
Tenório Jr. estava em turnê com Vinicius de Moraes quando desapareceu na madrugada de 18 de março de 1976, deixando apenas um bilhete para Toquinho. O pianista, nascido em 1941, era reconhecido por seu talento no samba-jazz e bossa-jazz, tendo colaborado com grandes nomes da música brasileira.
Seu desaparecimento gerou especulações sobre uma possível confusão de identidade com os chamados subversivos políticos, evidenciando a brutalidade indiscriminada da repressão durante a ditadura argentina.
Tenório, aos 35 anos, deixou cinco filhos que cresceram sem a presença paterna e a mulher, Carmen, que enfrentou dificuldades para criá-los sozinha. O filho mais novo nasceu um mês após o desaparecimento do pai. Além dos filhos, Tenório Jr. não pôde conhecer seus oito netos.
Agora os filhos buscam respostas sobre as circunstâncias da morte e defendem a necessidade de uma nova investigação. "Quem matou Tenório? Por quê? Por que matar um homem sem nenhum envolvimento político, que só vivia para a música? Durante anos ouvimos versões e histórias que agora se revelam falsas", questionaram eles em uma nota, divulgada em setembro.
Além de agradecer à EAAF, os familiares reforçaram a necessidade de uma nova investigação "em nome da memória que não pode se perder". "Esperamos que, desta vez, as autoridades possam nos dizer o que aconteceu. A dor não irá embora nunca, mas a justiça pode trazer conforto", finalizaram.
A equipe forense conduzirá uma investigação para determinar as circunstâncias exatas da morte.
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