Governo brasileiro busca ampliar presença de mulheres negras em espaços de decisão

Com políticas estruturantes e ações inovadoras, como o CPNU e o LideraGov, o Ministério trabalha para reduzir as desigualdades e barreiras históricas e garantir mais representatividade e inclusão na administração pública federal

Governo brasileiro busca ampliar presença de mulheres negras em espaços de decisão
Governo brasileiro busca ampliar presença de mulheres negras em espaços de decisão

Agência Gov | Via Mgisp - 26/08/2025 10:58:47 | Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil

O Governo Federal está dando passos concretos para transformar o perfil do serviço público e torná-lo mais diverso, plural e representativo da sociedade brasileira. Por meio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), políticas afirmativas, concursos públicos com mais inclusão e programas de formação de lideranças vêm fortalecendo a presença de mulheres negras na administração pública.

Um exemplo marcante dessa transformação é a nomeação de Mychelle Alves Monteiro como diretora do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Servidora pública e formada na 4ª edição do Programa LideraGov , Mychelle é a primeira mulher negra a assumir esse cargo desde a fundação do instituto , em 1970 .

“Assumir a direção do INCQS é uma honra imensa, que me faz olhar para trás, reconhecer quem veio antes de mim e, ao mesmo tempo, olhar para frente com responsabilidade”, afirmou Mychelle durante a posse, realizada no Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha , celebrado em julho.

Nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, formada em escola pública, com mestrado e doutorado, Mychelle representa uma nova geração de lideranças no setor público : pessoas cujas trajetórias são fortalecidas por políticas de valorização da diversidade e da inclusão. Para o MGI, histórias como a dela não devem ser exceção, mas parte de uma realidade mais ampla e acessível para todas e todos.

Hoje, dos 573.485 servidores públicos federais, 45,65% (261.800) são mulheres e, deste total, 17,66% (101.257) são mulheres negras, segundo o Painel Estatístico de Pessoal (PEP). Em junho de 2025, o total de mulheres negras que ocupam cargos estratégicos e de influência institucional, como funções de chefia, direção ou de assessoramento, alcançou 2,5% do total de servidores, ou seja, cerca de 14 mil. Em 2022, as mulheres negras eram 2,3 % dos servidores ativos ocupando cargos. O crescimento, ainda que discreto, demonstra um movimento consistente rumo ao fortalecimento da representatividade.

O MGI vem trabalhando, desde janeiro de 2023, para melhorar essa realidade, com ações que combinam acesso, permanência e desenvolvimento de trajetórias profissionais. Desde a sua criação a pasta tem capitaneado políticas de promoção da igualdade racial e de gênero na Administração Pública Federal. Como integrante do comitê gestor Programa Federal de Ações Afirmativas – PFAA, tem atuado na promoção de ações para grupos historicamente descriminados – populações negra , quilombola, indígena, pessoas com deficiência e mulheres.

CPNU e nova Lei de Cotas: mais acesso, mais inclusão
Entre as medidas adotadas, a nova Lei de Cotas (Lei nº 15.142/2025), regulamentada pelo Decreto nº 12.536/2025, ampliou para 30% o percentual mínimo de reserva de vagas para pessoas negras, indígenas e quilombolas em concursos públicos federais. A mudança já está sendo aplicada na segunda edição do Concurso Público Nacional Unificado (CPNU 2), cujas provas estão marcadas para outubro e dezembro.

Além disso, o CPNU 2 implementou novas estratégias para garantir a aplicação de cotas em cargos com apenas uma vaga, por meio de sorteios nos blocos temáticos. Com essa inovação, 59 cargos passaram a adotar ações afirmativas, estendendo o alcance da política de inclusão . Agora, 35% dessas vagas estão sob reserva legal.

Ao todo, o CPNU 2 recebeu 252.596 inscrições homologadas nas cotas voltadas a pessoas negras, indígenas, quilombolas e com deficiência ( PcD ). Apenas as candidaturas de pessoas negras somam 210.882 , o equivalente a 27,7% do total de mais de 760 mil inscritos.

Outro avanço importante foi a adoção da paridade de gênero na convocação para a prova discursiva. Essa medida inédita busca equilibrar a presença de mulheres e homens nas etapas finais da seleção, com foco especial nas carreiras onde as mulheres ainda enfrentam obstáculos para avançar, mesmo com alta qualificação.

As mulheres também representam 60% das pessoas inscritas no CPNU 2 e são maioria em todas as regiões e na maior parte dos blocos temáticos. O edital ainda prevê condições específicas para gestantes e lactantes, como tempo adicional para amamentação e salas reservadas, além de outros atendimentos especializados nos dias de prova.

“É essencial que o serviço público represente a diversidade do povo brasileiro. Ampliar o acesso e a presença de mulheres negras fortalece a administração pública e gera políticas mais justas e eficazes”, afirma Queila Cândida Ferreira Morais, coordenadora-geral de Concursos e Provimento de Pessoal do MGI.

LideraGov : formação de lideranças diversas
Além do acesso, o MGI aposta na formação de lideranças para mudar o perfil dos espaços de decisão. Em 2024, o Programa LideraGov foi institucionalizado após três edições-piloto e segue em expansão. Realizado em parceria com a Escola Nacional de Administração Pública (Enap) e o Ministério da Igualdade Racial (MIR), o programa busca formar lideranças comprometidas com a inovação, a inclusão e a melhoria dos serviços públicos.

A 4ª edição do LideraGov foi dedicada exclusivamente a pessoas negras, reunindo 51 participantes , sendo 60% mulheres. A experiência resultou na publicação do livro Mulheres Negras no Serviço Público, com relatos inspiradores de trajetórias transformadoras. Entre egressas e participantes, o LideraGov conta com a presença de 70 mulheres negras em seu histórico, o que representa cerca de 60% do total feminino.

Em 2025, o programa avançou ainda mais. A nova edição conta com 58% de pessoas negras, 50% de mulheres e representantes de 15 unidades da Federação e 29 órgãos. O livro Vozes Negras no Serviço Público – Memórias e Narrativas Transatlânticas também foi lançado este ano, reforçando a importância da escuta e da valorização de experiências diversas. O programa segue os critérios do Decreto nº 11.443/2023, que orienta que pelo menos 30% dos cargos de liderança no serviço público sejam ocupados por pessoas negras.

“A diversidade está no centro do que queremos construir no serviço público. Nosso objetivo é formar lideranças que reflitam a realidade do Brasil e que possam, a partir de sua vivência, transformar políticas e entregar resultados com mais empatia e efetividade”, destaca Priscila Aquino, coordenadora do LideraGov no MGI.

Transformar para incluir
Com concursos mais acessíveis, legislação atualizada e programas de formação de lideranças, o MGI promove uma mudança concreta e contínua no serviço público. As ações reafirmam o compromisso do governo federal com a superação das desigualdades e com a valorização de diferentes trajetórias, saberes e experiências.

A presença de mulheres negras em espaços de decisão não é apenas símbolo de representatividade: é também um passo essencial para políticas públicas mais eficazes, humanas e alinhadas à realidade da população brasileira.

Comentários para "Governo brasileiro busca ampliar presença de mulheres negras em espaços de decisão":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório