Levantamento do Pnuma indica que necessidades de financiamento de países em desenvolvimento somam de US$ 310 a 365 bilhões por ano; publicação ressalta papel da COP30 em promover esforço coletivo para suprir lacuna
Agência Onu News - 31/10/2025 17:05:25 | Foto: OMS/Nitsebiho Asrat
O financiamento global para adaptação às mudanças climáticas precisa aumentar pelo menos 12 vezes para cobrir as necessidades dos países em desenvolvimento até 2035.
Essa é a conclusão do relatório Lacuna de Adaptação 2025, lançado nesta quarta-feira pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma.
Necessidade de “mutirão global”
O documento serve para informar as negociações da 30ª Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP30, em Belém, no Brasil.
A avaliação indica que o planejamento e a implementação de medidas de adaptação estão melhorando, mas as necessidades de financiamento nos países em desenvolvimento são de US$ 310 a 365 bilhões por ano.
O relatório ressalta a necessidade de intensificar tanto o financiamento público quanto o privado e reforça a proposta da presidência da COP30 de criar um “mutirão global”, um esforço coletivo para “passar das negociações para uma ação climática ambiciosa”.
Sem investimentos agora, custos vão crescer a cada ano
O secretário-geral da ONU, António Guterres, afirmou que "os impactos climáticos estão acelerando, mas o financiamento da adaptação não está acompanhando o ritmo, deixando os mais vulneráveis do mundo expostos ao aumento do nível do mar, tempestades mortais e calor escaldante".
O líder da ONU ressaltou que fechar a lacuna de adaptação significa proteger vidas, oferecer justiça climática e construir um mundo mais seguro e sustentável.
Já a diretora-executiva do Pnuma, Inger Andersen, disse que “mesmo em meio a orçamentos apertados e prioridades concorrentes, “se não houver investimento em adaptação agora, os custos vão crescer a cada ano".
176 países com planos de adaptação em vigor
Os fluxos internacionais de financiamento público de adaptação para os países em desenvolvimento foram de US$ 26 bilhões em 2023, abaixo dos US$ 28 bilhões do ano anterior. Isso deixa uma lacuna de financiamento de adaptação de US$ 284 a 339 bilhões por ano, o que seria 12 a 14 vezes mais do que os recursos atuais.
Se as tendências atuais não mudarem, a meta do Pacto Climático de Glasgow, de dobrar o financiamento público internacional de adaptação dos níveis de 2019 para aproximadamente US$ 40 bilhões até 2025, não será alcançada.
Cerca de 172 países têm pelo menos uma política, estratégia ou plano nacional de adaptação em vigor. No entanto, 36 deles países possuem instrumentos desatualizados.
O relatório identificou que o apoio a novos projetos no âmbito do Fundo de Adaptação, do Fundo Global para o Meio Ambiente e do Fundo Verde para o Clima cresceu para quase US$ 920 milhões em 2024.
Este é um aumento de 86% em relação à média móvel de cinco anos de US$ 494 milhões entre 2019 e 2023. No entanto, isso pode ser apenas um pico, com restrições financeiras emergentes tornando o futuro incerto.
Impacto da inflação
A Nova Meta Quantificada Coletiva para o financiamento climático, acordada na COP29, exige que as nações desenvolvidas forneçam pelo menos US$ 300 bilhões para os países em desenvolvimento, por ano, até 2035. Isso é considerado insuficiente para fechar a lacuna financeira, por dois motivos.
Primeiro, se a taxa de inflação da última década for estendida até 2035, o financiamento de adaptação estimado necessário para os países em desenvolvimento passa de US$ 310-365 bilhões por ano a preços de 2023 para US$ 440-520 bilhões por ano.
Em segundo lugar, a meta de US$ 300 bilhões é tanto para mitigação quanto para adaptação, o que significa que a adaptação receberia uma parcela menor.
O chamado “Roteiro de Baku a Belém”, que está sendo elaborado para arrecadar US$ 1,3 trilhão até 2035 pode fazer uma enorme diferença. Mas o Pnuma alerta que as propostas não podem aumentar as vulnerabilidades das nações em desenvolvimento.
Por isso, doações e instrumentos concessionais são essenciais para evitar o aumento do endividamento, o que tornaria mais difícil para esses países investirem na adaptação.
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