Isso que chamamos de amor mata 80 mil mulheres por ano, diz Brigitte Vasallo

O nomadismo, por exemplo, era repreendido.

Isso que chamamos de amor mata 80 mil mulheres por ano, diz Brigitte Vasallo
Isso que chamamos de amor mata 80 mil mulheres por ano, diz Brigitte Vasallo

Bárbara Blum - Paraty, Rj (folhapress) - 15/10/2024 10:19:44 | Foto: Reprodução Brigitte Vasallo web

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"Não é verdade que o tempo cura tudo. O que cura é justiça", diz a filósofa espanhola Brigitte Vasallo, sobre as mazelas deixadas pela colonização das Américas. Em uma tenda cheia, ela encontra a psicóloga guarani Geni Nuñez na Flip, a Festa Literária Internacional de Paraty, na manhã deste sábado (12), para debater sobre o amor político.

A espanhola, de fala acelerada e energizada, emocionou o público ao dizer que "isso que chamamos de amor mata 80 mil mulheres por ano". Lembra a fala da filósofa italiana Silvia Federici, que virou até pano de prato -"o que eles chamam de amor, nós chamamos de trabalho não pago".

Nuñez, de fala vagarosa, elogia a traição do pacto colonial que a espanhola faz. Ela diz que foi selecionada no povo dela -Nuñez é guarani- para levar a evangelização, fracasso do qual se orgulha. "Antes de pedir perdão, veja se vocês concordam com o pecado", diz.

Há uma inversão colonial que costuma colocar quem está em perigo como perigoso, diz Nuñez. Ela parte das cartas jesuítas, que registraram as formas de amor indígenas, para entender o que foi considerado pecado ou não. O nomadismo, por exemplo, era repreendido.

Ela usa essa ideia para brincar com os versos de "Eu Sei que Vou te Amar", de Tom Jobim, e diz que não, ninguém sabe se vai mesmo amar alguém por toda a vida. Mas o louvor à permanência e as promessas de segurança do futuro são praxe.

"O que eles querem é que a única estrutura de apoio seja aquele casal tão pequenininho", diz Vasallo, que se diz a favor do casamento para todos, mas propõe ampliar as relações para que outras estruturas sejam reconhecidas na sociedade.

Nuñez mistura à sua fala histórias pessoais e alguns poemas, do seu livro "Felizes por Enquanto", da editora Planeta. Ela lê um poema em homenagem à sua mãe, que, ao descobrir que a filha não é heterossexual, disse que não gostaria de ir a um céu em que a filha não estivesse.

Vasallo, expulsa da própria família, diz que é possível reivindicar essa estrutura e criticá-la ao mesmo tempo. Ela fala sobre a origem camponesa de seus pais e sobre a linha tênue entre família e não família na aldeia.

A espanhola se diz obcecada pelos métodos -muito mais do que pelas coisas. Afirma que, na Europa, o feminismo virou um tópico, e não um método. Diz que não se interessa pelo feminismo como tema, mas como método. "Não sou muito identitária."
Cada fala era recebida com aplausos, a ponto de Nuñez avisar, ao fim de uma colocação, que tinha acabado, para dar a deixa. Com clima celebratório, alguns poucos casais trocaram beijos durante e ao fim da mesa. Ao final, as autoras receberam palmas de pé do público.

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