Jovens indígenas são mortos por garimpeiros em conflito na Terra Yanomami em Roraima

Conflito foi na comunidade chamada de Maloca do Macuxi, na Terra Yanomani

Jovens indígenas são mortos por garimpeiros em conflito na Terra Yanomami em Roraima
Jovens indígenas são mortos por garimpeiros em conflito na Terra Yanomami em Roraima

Por Valéria Oiveira, G1 Rr — Boa Vista - 27/06/2020 21:29:56 | Foto: Júnior Hekuari Yanomami/Condisi-Y/Divulgação

Morreram os indígenas Original Yanomami, de 24 anos, e Marcos Arokona, de 20, segundo o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-Y). Conflito foi em uma área de mata fechada na região do rio Parima, em Alto Alegre.

Um conflito na Terra Yanomami resultou na morte de dois jovens indígenas, de 20 e 24 anos, em Roraima. As vítimas foram atacadas a tiros no meio da floresta por garimpeiros armados, informou nesta sexta-feira (26) o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-Y).

Os jovens se chamavam Original Yanomami, 24, e Marcos Arokona, de 20. O conflito foi no último dia 12, na comunidade Maloca do Macuxi, região do rio Parima, município de Alto Alegre, segundo o presidente do Condisi-Y, Júnior Hekuari Yanomami.

As vítimas estavam em um grupo de cinco indígenas quando se depararam com os dois garimpeiros próximo a uma pista clandestina para pouso de helicóptero.

"Os garimpeiros, ao verem eles, atiraram e acertaram um. O grupo correu no meio da floresta, houve perseguição, e o outro indígena também foi atingido", disse Júnior Yanomami.

Os indígenas relataram que a perseguição durou cerca de uma hora. Eles estavam armados com flechas, mas não conseguiram atingir os garimpeiros. O ataque foi por volta de 15h.

O Condisi-Y foi informado do conflito na terça (23), após contato via radiofonia. O Conselho, acompanhado de equipes da Fundação Nacional do Índio e da Polícia Federal, foram à região na quarta para apurar o caso e retornaram nesta sexta.

"Fomos com a Funai e a PF na região onde estavam os corpos, só conseguimos chegar até onde estava um deles. É um lugar de difícil acesso e precisávamos voltar, se não ia escurecer", afirmou Júnior, acrescentado que para chegar onde o corpo estava foi necessário andar 2h30 a pé na mata.

Os corpos de Original Yanomami e de Marcos Arokona ainda estão no meio da floresta, onde permanecerão seguindo as tradições de funeral do povo Yanomami.

"Os corpos vão ficar no local por cerca de 40 dias. Depois, serão queimados e as cinzas serão levadas até a comunidade onde viviam, onde vão passar por um ritual de luto".

"A comunidade onde eles viviam está assustada. Ele estão de luto, acampados no meio da floresta", disse Júnior Yanomami.
Região onde ocorreu conflito fica no meio da floresta, em área de difícil acesso, em Roraima — Foto: Júnior Hekuari Yanomami/Condisi-Y/Divulgação
Região onde ocorreu conflito fica no meio da floresta, em área de difícil acesso, em Roraima — Foto: Júnior Hekuari Yanomami/Condisi-Y/Divulgação

Em nota, a Funai informou que está ciente da denúncia e disse que "segue acompanhando o caso." Procurada, a PF não se manifestou sobre o conflito até a última atualização da reportagem.

Ao receber a denúncia do conflito, o Condisi-Y comunicou, via ofício, o Ministério Público Federal em Roraima (MPF-RR). A assessoria do órgão confirmou ter recebido a informação e disse que aguarda posicionamento oficial da Funai e do Exército. O Exército, no entanto, disse ao G1 não ter informações sobre o caso.

'Em nome do povo Yanomami, peço apoio do governo federal para fazer operações para buscar os garimpeiros na Terra Yanomami e punir os responsáveis. É muito triste ver os pais e mães chorando. Ele estão pedindo socorro, apoio, ajuda. Os garimpeiros estão tomando a Terra Indígena Yanomami", frisou o presidente do Condisi-Y.

Região de difícil acesso

A Maloca do Macuxi fica em meio à floresta amazônica, numa região de mata fechada, onde o acesso só é possível por avião ou helicóptero. A comunidade foi criada há cerca de sete meses e, conforme Júnior, 80 indígenas vivem na localidade.

Para chegar na região, as equipes do Condisi-Y, PF e Funai e saíram de Boa Vista em um avião até a a região de Surucu, depois pegaram um helicóptero.

"Até Surucu foi cerca de 1h30. Depois, até a comunidade foram 25 minutos de helicóptero. Para chegar onde ocorreu o conflito foram andando na mata por cerca de 2h30", contou.

Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro.

O território também contém a referência confirmada de um povo indígena isolado, além de seis outras reportadas em estudo, segundo a Funai.

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