Ministério da Saúde abre consulta pública sobre inclusão do Canabidiol no SUS
Uso é para tratamento de epilepsia refratária, doença em que 30% dos pacientes são resistentes a medicamentos. Contribuições podem ser feitas pela internet, até 15 de março.
O canabidiol já faz diferença na vidas de famílias do Distrito Federal, que conseguiram o direito de usar a substância ( veja abaixo ). Agora, a ideia do Ministério da Saúde é ter opiniões, informações e críticas da sociedade e da comunidade científica sobre o tema.
O assunto veio à tona devido à solicitação de uma empresa que quer o canabidiol incluso pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec) no Sistema Único de Saúde (SUS). O tema chegou a ser discutido pela pasta no fim do ano passado, porém, a comissão optou por abrir a consulta.
De acordo com a Conitec, 30% dos pacientes com epilepsia são considerados resistentes aos medicamentos. Por isso, o canabidiol seria uma alternativa de tratamento para essas pessoas.
Planta de 'Cannabis sativa', da qual é possível extrair o canabidiol — Foto: Kimzy Nanney/Unsplash
A substância em avaliação pelo ministério é chamada comercialmente de Prati-Donaduzzi, um produto de cannabis que não tem tetrahidrocanabinol (THC) – principal substância psicoactiva encontrada nas plantas do gênero cannabis. O produto tem relatório técnico feito pela Conitec e um pedido de incorporação ao SUS produzido pela Secretaria de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde do Ministério da Saúde (SCTIE/MS).
As contribuições da sociedade serão analisadas pela Conitec. "A expectativa é que sejam apresentadas informações sobre o uso da tecnologia em avaliação, sejam como relatos de experiência ou evidências científicas, que possam contribuir para recomendação final da Comissão", informou a pasta.
Ao G1, o neurocientista e professor do Departamento de Ciências Fisiológicas da Universidade de Brasília (UnB) Renato Malcher, informou que o ideal no debate sobre o uso do canabidiol é a regulamentação e não apenas o uso específico de uma substância, como sugere a consulta pública.
O especialista comenta que a questão do canabidiol precisa ser discutida de forma ampla e sem resistência cultural. De acordo com ele, quando o pleito é feito apenas por uma empresa, há possibilidade de monopólio de produtos que não podem ser os melhores e tem preço elevado.
"É uma situação paradoxal. Não sei se há uma solução imediata, mas, a longo prazo, a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] deve estabelecer uma regulamentação e até caracterizar a substância como fitoterápico, que é mais flexível que os remédios", diz o professor.
Filha de casal do DF faz uso de canabidiol para tratar epilepsia — Foto: Arquivo pessoal
Em 2015, Sabrina Azevedo Filgueira, à época com 8 anos, tinha cerca de 30 crises convulsivas por dia, provocadas pela epilepsia. Após diversas idas ao médico, o pai dela, o analista de licitação Fábio Filgueira Virgulino, de 41 anos, conseguiu uma receita médica para fazer uso do canabidiol.
"Depois que o tratamento começou, as crises reduziram até que houve controle. Porém, para conseguir o remédio, não foi fácil", detalhou.
De acordo com Fábio, a primeira receita do canabidiol foi custeada por ele. "Fizemos empréstimos e pedimos doações. Conseguimos R$ 4 mil e compramos o remédio, que durou 45 dias de tratamento", afirmou.
O analista disse que decidiu acionar a Justiça e, em 2015, Sabrina foi a primeira criança da capital a ter autorização que obriga o Executivo a custear o medicamento. Porém, após a decisão, o remédio demorou mais de 1 ano para chegar.
Seis anos após iniciar o tratamento, Fábio afirma que ainda enfrenta burocracia para conseguir o medicamento. De acordo com ele, agora, ele disputa na Justiça o direito de cultivar a substância em casa.
"Acredito que tenha uma questão de preconceito muito grande no Brasil, que acham que o cultivo é para algo recreativo. Sou um pai de família que quero produzir um remédio", reforçou.
O fármaco a base de canabidiol comercializado no país pode ser usado somente com prescrição médica e é indicado para quadros graves e resistentes de epilepsia, em que outros medicamentos não surtiram efeito.
Em dezembro de 2019, a Anvisa rejeitou uma proposta de regulamentação do cultivo da maconha para fins medicinais no Brasil. Em nota, o órgão explicou que "a questão do plantio é um tema que precisa ser tratado com o legislativo neste momento".
Enquanto tramitam no Congresso Nacional projetos de lei que têm como objetivo definir os critérios para o cultivo da cannabis, o Poder Judiciário tem julgado pedidos de famílias que alegam depender dos medicamentos e comprovam sua eficácia por meio de laudos médicos.
Antes da decisão, a família já mantinha alguns exemplares de cannabis sativa em casa, mas corria o risco de ser punida com base na Lei Nacional de Drogas. A mãe da adolescente, então, entrou com um pedido de habeas corpus para dar segurança jurídica ao cultivo.
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