“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”
Por Circe Cunha-visto, Lido E Ouvido - Correio Braziliense - 16/06/2019 11:39:13 | Foto: Pixabay
Quando alguns brasileiros começaram a descobrir a vastidão e complexidade do cerrado, os estrangeiros, com apoio imediato do governo, estavam derrubando e queimando as árvores torcidas do bioma, expulsando e matando os animais, visando ao estabelecimento de grandes latifúndios para o plantio de monoculturas, como a soja.
Ao se posicionar hoje como o maior produtor mundial desse produto, exportado, em grande parte, para a China, com faturamento anual superior a US$ 25 bilhões, o Brasil deixou de lado, definitivamente, sua preocupação com o patrimônio ambiental e sua preservação, considerada pelo governo e pelo pessoal do agrobusiness como discussão menor e sem retorno econômico.
Dessa feita, hoje, a soja e a pecuária respondem como os principais responsáveis pelo desmatamento da região, que prossegue sem limite, na perspectiva de expansão continua da chamada fronteira agrícola. Chega a ser penoso constatar que os maiores esforços contra a destruição contínua do cerrado vêm também de pessoas e organizações não governamentais do exterior, acostumadas com esse tipo de luta.
Internamente, parece que ainda não despertamos para essa calamidade, que ocorre bem debaixo de nossos pés. Não se vê o assunto nas tevês ou jornais. Não se veem debates nem movimentos populares contra essa destruição paulatina de nossas riquezas. Não é por outra razão que apenas 5% das multas referentes ao desmatamento e a outras contravenções ambientais são efetivamente pagas.
Também não chega a ser surpresa o fato de que não se conhece nenhum desses destruidores do meio ambiente presos ou cumprindo qualquer pena. Mesmo aqueles grandes produtores que são flagrados desmatando ou mantendo trabalhadores em condições análogas à escravidão são devidamente penalizados, o que faz supor um conluio de forças muito maior do que podemos imaginar.
Grandes empresas de alimentos do mundo e outras 60 importantes marcas de nutrientes se reuniram para formar um conglomerado ainda mais gigantesco denominado Consumer Goods Forum (CGF) e exercerem pressão sobre tudo e todos, supostamente para impor regras e, em muitos casos, descumprir legislações contrárias aos seus interesses. Mesmo os apelos e os manifestos embasados, como os feitos por um conjunto de mais de 600 cientistas de todo o mundo, para que a União Europeia não compre alimentos que não sejam devidamente certificados e com compromissos com o meio ambiente, têm sido respeitados ou levados a sério.
É preciso entender, de uma vez por todas, que o cerrado, com seus 2 milhões de Km², ou 25% do território nacional, onde nascem as três maiores bacias hidrográficas da América do Sul (Amazônica/Tocantins, São Francisco e Prata) reclama maior interesse por parte das autoridades e dos legisladores. Outro fator de indiscutível importância é que nove em cada 10 brasileiros consomem eletricidade gerada com as águas do cerrado, responsáveis pela metade da energia produzida no país.
Não se entende, pois, que o cerrado, um dos biomas mais ricos do planeta, continue a ser um dos mais ameaçados e desprezados pelos seguidos governos, que só enxergam nessa região o fator lucro imediato, sem maiores esforços que não deixar região à livre exploração. É uma pena e um crime.
A frase que foi pronunciada
“Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”
Nicolas Behr, poeta da nossa terra
Reformas
» Enfim, a W3 está passando por uma revisão geral. Calçadas que vão favorecer a mobilidade, limpeza e arrumação geral. Brasília precisa de pelo menos um lugar onde os cadeirantes e idosos possam circular com segurança. É uma homenagem singela a quem construiu a cidade.
Vida
» Arte no metrô. Que notícia boa saber que, entre a estação Central e a da 102 Sul, as paredes estão servindo para mostrar arte. Artistas do DF e de diversos estados mostram a arte em sintonia com a tecnologia. São as cidades inteligentes que chegaram aos países mais ricos. Aos poucos, Brasília vai se rendendo. Sem discutir o mérito, a projeção audiovisual em 3D usada em edifícios é realidade pelo mundo, enquanto na capital do país é novidade.
Constatação
» Domingo Pet Day. Um dia exclusivo dedicado aos Pets no Eixão. Há quem diga que a solidão dos seres humanos aumenta e os bichos de estimação, que nada cobram, não têm maus dias, estão sempre solícitos, são a melhor companhia. O que sei é que vi cair lágrimas dos olhos de uma maranhense recém-chegada a Brasília quando viu que animais têm plano de saúde.
História de Brasília
Não façam, entretanto, exceções. Cortem todos os telefones dos relapsos pagadores e, assim, os que pagam em dia terão maior número de linhas, e o DTUI, por sua vez, disporá de mais dinheiro para a aquisição de material. (Publicado em 23/11/1961)
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