A síndrome de Down entrou nas nossas vidas sem ser convidada. Esperávamos uma criança como qualquer outra. De repente, sem qualquer aviso prévio, ficamos sabendo que junto com a criança viria a síndrome de Down. De repente, tudo mudou. Não sabíamos o que esperar, como agir e como pensar. Não tínhamos ideia do que iriamos aprender nestes 11 anos em que a síndrome de Down passou a fazer parte das nossas vidas. Tudo seria diferente.

O início foi muito difícil. Diferente. Com a síndrome de Down vem risco de problemas no coração. Muitas crianças, logo após nascer, precisam ser operadas. A medicina evoluiu, os riscos, hoje, são menores do que eram no passado. Os estímulos que uma criança com síndrome de Down precisa para se desenvolver são diferentes do que as outras crianças necessitam. Diferentes e mais intensos. A síndrome de Down traz consigo um mundo de terapias. Não é fácil. Não é barato. As vezes é preciso usar a criatividade para estimular. É preciso pensar diferente. Mas, em 11 anos, também fomos estimulados pela síndrome de Down e aprendemos muito.

As dificuldades, embora grandes, são muito menores do que as pessoas com síndrome de Down tem para ensinar. Um mundo de possibilidades diferentes das tradicionais se abre diante das pessoas que convivem com pessoas com síndrome de Down. A estimulação ensina que o ser humano, se ensinado e bem estimulado, pode alcançar qualquer objetivo. Ensina que todos podem aprender e se desenvolver. Se o aprendizado e desenvolvimento não vierem, tente ensinar e estimular de uma forma diferente. Nada é impossível, tudo pode ser alcançado se buscarmos de forma persistente e obstinada, ainda que por caminhos diferentes. Paciência, aprender a esperar o tempo de cada um é uma virtude rara. Vivemos em um mundo apressado e imediatista. O mundo da síndrome de Down é diferente.

A aquisição da leitura, da fala, das habilidades que precisamos para viver em sociedade demanda um processo de aprendizado diferente. No mundo “típico”, os processos são desprezados, queremos resultados e queremos para ontem. Isso não funciona para as pessoas com síndrome de Down. Não funciona para ninguém. Precisamos prestar atenção em cada passo, crescer de forma sustentável, ainda que diferente do tradicional. Aproveitar a viagem, em tradução a expressão “enjoy the ride”, da língua inglesa.

Em 11 anos, a síndrome de Down, ou melhor, o Daniel, com a síndrome de Down, tem nos ensinado a ser mais contemplativos. A aproveitar e comemorar cada conquista. Nos ensina que a vitória não está no primeiro lugar, mas no processo de cair, levantar, sacudir a poeira e seguir adiante, sem nunca desistir. A síndrome de Down mudou tudo em nossas vidas, mudou para melhor. As dificuldades nos tornam mais fortes, nos torna diferentes. O convívio com a síndrome de Down, com as pessoas que são diferentes do padrão, nos ensinam a ser diferentes. E, em um mundo em que a infelicidade é a regra, ser diferente é motivo de alegria e diferença. O Daniel, em 11 anos, nos ensina e continua ensinando que ser diferente é legal, é bom. Conviva e inclua pessoas com síndrome de Down e outras deficiências em sua vida, e você se tornará mais eficiente, mais feliz. Aprenderá a ser diferente.