Probióticos podem ser o caminho para reduzir os efeitos nocivos do álcool

Uma maneira de evitar essas consequências seria beber menos

Probióticos podem ser o caminho para reduzir os efeitos nocivos do álcool
Probióticos podem ser o caminho para reduzir os efeitos nocivos do álcool

Por: Dr. Bernardo Petriz - 01/05/2023 16:40:07 | Foto: Divulgação Dr. Bernardo Petriz

Além da ressaca, que pode causar fortes dores de cabeça, fadiga e náusea, o consumo crônico e excessivo de álcool está associado a uma série de problemas de saúde, incluindo doenças cardíacas, cirrose e deficiência imunológica. Uma maneira de evitar essas consequências seria beber menos. No entanto, pesquisadores chineses apresentaram outra forma de amenizar as ressacas e outros efeitos adversos.

Segundo as últimas estatísticas, o consumo per capita de álcool por adultos aumentou de 5,9 L para 6,5 L em todo o mundo entre 1990 e 2017. Estima-se que até 2030, o consumo chegará a 7,6 L. Embora estudos populacionais em larga escala indiquem que o consumo moderado de álcool não aumenta o risco de mortalidade, um estudo recente mostrou que o consumo moderado foi associado a um risco aumentado de fibrose na doença hepática gordurosa não alcoólica.

A ingestão excessiva de álcool em um curto período de tempo é uma das principais causas preveníveis de comprometimento da saúde. Atualmente, já é reconhecido que as bebidas alcoólicas prejudicam a absorção intestinal de 79 nutrientes, incluindo vitaminas, sódio e até mesmo a água. O consumo de álcool também contribui para a deficiência imunológica do intestino.

À medida que o álcool entra na corrente sanguínea, o sistema cardiovascular e o fígado são os principais alvos de danos, resultando em doenças cardíacas, cardiomiopatia, doença hepática gordurosa alcoólica, hepatite, cirrose e outras doenças hepáticas associadas ao álcool. Sabe-se que o acetaldeído, um metabólito secundário do álcool, afeta diretamente o sistema nervoso, podendo levar a uma série de problemas neurológicos, incluindo ansiedade, insônia e perda de memória. Este conjunto de fatores evidencia a necessidade de buscar alternativas práticas para a redução no consumo de álcool ou para atenuar os efeitos deletérios do seu consumo.

Aparentemente, a segunda opção se mostrou mais provável! Recentemente, pesquisadores chineses apresentaram dados científicos sobre uma abordagem que poderá futuramente ser usada para reduzir os efeitos nocivos do álcool no organismo.

Os pesquisadores usaram probióticos geneticamente modificados para reduzir a absorção do álcool, prolongar a tolerância e reduzir o tempo de recuperação do organismo após o consumo de álcool. Eles fizeram isso introduzindo o gene humano ADH1B no DNA da Lactococcus lactis, um tipo de bactéria comumente usada na fermentação. Posteriormente, verificou-se que a bactéria passou a produzir a enzima humana. Após essa etapa, encapsularam o probiótico para garantir a sobrevivência da bactéria ao ácido estomacal e testaram o efeito em camundongos expostos a diferentes níveis de álcool.

Estudos bioquímicos já comprovaram que apenas uma pequena parte do álcool é excretada através da respiração, urina e suor. Aproximadamente 90% do álcool consumido é transformado em acetaldeído pela enzima álcool desidrogenase (ADH) e, em seguida, é rapidamente convertido em dióxido de carbono e água por meio de outra enzima presente no fígado, a aldeído desidrogenase (ALDH). Uma variante enzimática da ADH, a ADH1B, que está presente principalmente em populações asiáticas e polinésias, apresenta atividade enzimática ainda mais elevada.

Os resultados preliminares mostraram que os camundongos tratados com o probiótico foram capazes de se recuperar mais rapidamente do consumo de álcool em comparação com o grupo de controle. Além disso, a terapia com probióticos conseguiu reduzir os níveis de lipídios e triglicerídeos no fígado dos camundongos, sugerindo que pode ter um efeito benéfico na prevenção de danos causados pelo álcool no órgão.

Os pesquisadores acreditam que essa abordagem pode apresentar uma nova forma de reduzir problemas de saúde relacionados ao álcool, além de outras doenças hepáticas. No entanto, ainda é preciso testar a eficácia do probiótico em humanos antes de torná-lo um tratamento disponível.

Fonte:
Xiaoxiao Jiang, Chunlong Yan, Hanlin Zhang, Li Chen, Rui Jiang, Kexin Zheng, Wanzhu Jin, Huijuan Ma, Xiaomeng Liu, Meng Dong. Oral Probiotic Expressing Human Ethanol Dehydrogenase Attenuates Damage Caused by Acute Alcohol Consumption in Mice. Microbiology Spectrum, 2023
Bernardo Petriz é professor universitário e pesquisador na área da Ciência do Exercício & Saúde. Possui mestrado em Educação Física e doutorado em Ciências Genômicas e Biotecnologia. É também autor de um livro: "Fisiologia Molecular do Exercício" e fundador da produtora Ciência para Saúde

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