‘Quando a música nasce no Nordeste, não é tratada como algo nacional’, diz Joyce Alane

Nascida em Recife, a cantora foi indicada, em 2023, ao Prêmio Multishow e, em 2025, ao Grammy Latino

‘Quando a música nasce no Nordeste, não é tratada como algo nacional’, diz Joyce Alane
‘Quando a música nasce no Nordeste, não é tratada como algo nacional’, diz Joyce Alane

Por ana Carolina Vasconcelos e lucas Salum - Portal Bdf - 26/11/2025 07:57:26 | Foto: Maria Paulo Freire - BdF

Um dos nomes em ascensão da nova geração, a cantora pernambucana Joyce Alane começou a ganhar destaque ao gravar vídeos para as redes sociais.

Um dos nomes em ascensão da nova geração, a cantora pernambucana Joyce Alane começou a ganhar destaque ao gravar vídeos para as redes sociais, misturando MPB, pop e brega. Agora, com dois discos lançados, Tudo é Minha Culpa e Casa Coração , e parcerias com artistas renomados, como Zeca Baleiro, Chico César, João Gomes e Priscila Senna, ela também tem feito sucesso, lotando casas de shows e tomando conta das playlists de plataformas de áudio.

Nascida no Recife, foi indicada, em 2023, ao Prêmio Multishow e, em 2025, ao Grammy Latino. Apaixonada por seu estado de nascença, ela faz parte de uma geração que resiste e insiste em fazer arte sem sair do Nordeste brasileiro. Alane reconhece que existe um movimento de descentralização e valorização da cultura produzida fora do eixo Sul-Sudeste, mas destaca que ainda há desafios.

“Os ritmos que nascem no Nordeste não são tratados como algo nacional. Se nasceu aqui, não é nacional, é regional. Então, o brega, por exemplo, é tratado como um ritmo regional. A bossa nasceu no Rio de Janeiro. Podia ser regional do RJ, mas isso não acontece. As coisas que nascem lá, no eixo Sul-Sudeste, são vistas como nacional. E as coisas que nascem aqui vão ser vistas como algo regional? Por que?”, questiona, ao Conversa Bem Viver .

Influenciada pelo brega pernambucano, ela também comenta sobre os preconceitos ainda enfrentados pelo ritmo musical e os seus próximos projetos.

Confira a entrevista completa:

Brasil de Fato: Você tem feito parcerias com artistas renomados de gerações anteriores, como Zeca Baleiro e Chico César, mas também com artistas da sua geração, como João Gomes. Como tem sido esse processo?

Joyce Alane : João foi um presente. É uma pessoa muito tranquila, muito boa. A gente gravou a música juntos. Eu escrevi, ele teve interesse em participar e acabou acontecendo. Eu gosto de estar e gravar com as pessoas da minha geração, mas também gosto muito de honrar e aprender com as pessoas que vieram antes de mim. Então, para mim, é muito importante ter essa troca e unir esses públicos também.

Teve Chico César e Zeca Baleiro, mas teve também Dorgival Dantas, que fez parte da minha adolescência e é uma das minhas principais referências até hoje. Sou muito fã dele. Também teve Petrúcio Amorim, grande nome da música pernambucana, caruaruense, que hoje posso dizer que é um amigo. Ele é uma pessoa maravilhosa. Enfim, muitos artistas santanenses, cantadores. Tem muita gente que eu tive a alegria de estar junto.

E também, na nova geração, teve Mariana Aydar, lancei música com Ananda, que é uma artista de São Paulo, também lancei música com Clara Valverde e outros artistas, como Flávio Ferrari. Eu acho que isso é legal, somar um artista com o outro, um conhecimento, uma experiência com a outra. É isso que dá certo.

Existe um movimento de valorização dos artistas do Nordeste. Você acha que isso é uma conquista? Atualmente você mora no Recife?

Hoje, eu estou morando no Recife. Eu nasci no Recife, na certidão eu sou recifense, mas fui morar em Bonança, distrito de Moreno. Agora, faz uns dois anos que eu moro no Recife.

Eu digo que é uma questão de resistência e de insistência também. Eu sou apaixonada pelo lugar que eu moro, pelo lugar que eu nasci. Eu amo o meu estado de Pernambuco.

Claro, é também importante você conhecer outros lugares. Toda vez que eu vou para São Paulo, se eu passo uma semana, eu conheço alguém novo, algum artista que antes eu só ouvia. A internet também facilitou muita coisa. A gente consegue ter esse contato, consegue se aproximar do pessoal que não está propriamente no estado que você mora.

Mas tem uma questão, um problema, um defeitozinho. Às vezes, as pessoas só valorizam um artista quando ele está longe. Tem muito essa questão também. Ainda existe isso hoje. Às vezes, aquela pessoa daquele estado só valoriza o artista que é daquele estado, quando ele está morando longe e volta para fazer um show em casa. De repente, ele é o máximo.

Muitas vezes as pessoas não enxergam um artista que mora ali junto de você, que é seu vizinho, que está na luta. Talvez porque você viu crescer, você vê ele batalhando, você acaba tirando o encantamento. A gente, quando vai enxergar um artista, cria uma história em cima dele, cria um mundo mágico em cima dele, que não existe.

O artista precisa batalhar muito todo dia, é bronca e luta. Quando veem de perto, muita gente acaba não dando o valor que o artista merece. E aí, quando ele vai embora e começa a crescer lá fora, começa a ter a visibilidade. Minha base do fã clube é no meu estado. Eu amo Pernambuco e as pessoas daqui. Tocar em casa é muito especial, mas sempre existe aquela pessoa que não dá valor a você, só quando você aparece no lugar fora, quando as pessoas de fora estiverem falando de você.

Por isso que eu falo que é questão de resistência e de insistência. Eu sou de Pernambuco, eu amo morar aqui. Todo mundo que me encontra e vê que eu falo que moro no Recife, me pergunta: “Mas tu pensa em se mudar?”. É unânime essa pergunta. Sempre perguntam. E para mim, a resposta é não. Eu penso em passar um tempo, uma temporada fora, um mês, e volto. Eu penso sempre em voltar, porque é onde meu coração está, é onde eu me sinto em paz, é a terra que eu amo.

O brega ganhou neste ano um dia nacional, que vai ser comemorado em 14 de fevereiro, em homenagem ao recifense Reginaldo Rossi. Você tem origens no brega?

O brega, seja no Recife, seja em Pernambuco, seja no Pará, ainda é um pouco marginalizado. Principalmente o brega pernambucano, as pessoas, antes de ouvir, já falam: “Não presta essa música”. Simplesmente por saber de onde vem. O brega é um estilo, um ritmo musical, consumido principalmente pelas periferias, pela comunidade. Então, isso acaba criando esse preconceito de muita gente, mas tem muita letra bonita e a minha intenção de gravar nas redes sociais foi mostrar isso.

Eu cantava na voz e no piano. O brega faz parte da história do pernambucano, da nossa cultura. Mudou a vida de muita gente, que antes não tinha ideia de futuro, não conseguia pensar o que poderia fazer.

Eu acho a polêmica sobre se o brega é de Pernambuco ou do Pará muito boba, porque cada um tem algo específico. O Pará é o tecnobrega, a gente não pode discordar. Eles abraçam isso e é uma ramificação do brega. A gente tem o brega romântico e, agora, nesses últimos 10 anos, começou a movimentar mais o brega funk também. Antes era muito brega romântico, com Reginaldo Rossi, inclusive.

Então, a gente encontra, por exemplo, Priscila Sena, que eu fico super feliz por cada vez mais estar crescendo nacionalmente. Depois que ela fez participação no trabalho de Liniker, em Caju, as pessoas de fora que não conheciam ela começaram a conhecer e entender quem ela é. Priscila é uma potência dentro de Pernambuco. A gente tem também a Rafaella Santos, outro nome do brega, além de várias bandas maravilhosas.

É massa ter essa força. Eu tenho esse carinho porque realmente faz parte da vida de todo mundo, de todo pernambucano. Independente do que você faça, na sua rua deve tocar, alguém ao seu redor escuta e vai em show, se envolve.

É muito importante para a gente esse estilo, esse ritmo musical. Não só ele, mas também os outros, como xote, baião, forró, maracatu e frevo. Mas o brega tem esse lugar dentro do meu coração. O meu primeiro vídeo que viralizou foi cantando um brega da banda Kitara. O nome da música era Dizem que sou louca . É um costume também de algumas bandas de brega fazer versões de músicas internacionais. E foi muito massa e tenho um carinho muito grande.

Hoje eu tento trazer um elemento ou outro do brega em alguma música minha. Foi o que aconteceu no meu primeiro álbum, Tudo é minha culpa , com Só não fale , que eu gravei com a Priscila Senna.

Você acredita que o restante do Brasil tem um certo preconceito com o brega?

Com certeza. Eu acho que ritmos que nascem mais do Nordeste não são falados como um ritmo nacional, como algo nacional. Se nasceu aqui, não é nacional, é regional. Então, o brega é um ritmo regional. Por que Gabi Amarantos não pode ser uma pop também, não é tratada também como um pop? Tratam como regional, porque conta sobre a periferia de Belém.

A bossa nasceu no Rio de Janeiro. Podia ser regional do Rio, mas isso não acontece. Então, normalmente as coisas que nascem lá, no eixo Sul-Sudeste, são vistas como algo nacional. E as coisas que nascem aqui vão ser vistas como algo regional? Por que não é nacional também? É do Brasil. A gente precisa trabalhar essa questão com o tempo. Temos muita história ainda pela frente para poder falar sobre isso para o Brasil, para aproximar as pessoas de outras regiões.

Sua mãe é professora de língua portuguesa. Isso te influenciou de alguma forma a ser compositora?

Existiu muita influência. Minha mãe foi a primeira pessoa que acreditou em mim, antes mesmo de mim. Eu fui estudar arquitetura e ela não concordava muito, mas ela ficou calada. Quando ela me via próxima da música, ela me colocava. Minha mãe é uma das pessoas que acredita muito que a música pode levar você para outros caminhos, pode salvar.

Então, minha mãe sempre foi voltada para arte. Desde pequena, ela sempre me incentivou muito a ler e a escrever. Eu levava muito como uma brincadeira. Ela dizia: “Lê aqui esse outdoor”, quando eu estava aprendendo a ler. Eu lia e, para mim, era uma brincadeira. Isso foi muito importante na minha trajetória como artista, como cantora e compositora.

Eu sempre tive diário, também um estímulo dela à escrita. Sempre gostei de escrever. Consequentemente, o tempo foi passando, e eu comecei a musicalizar as coisas que eu escrevia, os desabafos que eu tinha. Foram surgindo músicas como um desabafo.

Hoje, minha mãe é aposentada, mas ela estimula mesmo assim. Leva a pessoa para música, leva a pessoa para a escrita. Eu tenho muito orgulho disso. Minha mãe me ajudou muito, ela fez a artista que eu sou hoje.

Quais serão os seus próximos projetos?

Estamos separando este semestre para muitas participações que estão por vir. Outros artistas me convidaram para trabalhos e eu acabei aceitando. Este ano vai sair muita coisa legal, além de um single meu. E, para o ano que vem, estamos preparando mais um projeto. Todo ano a gente pensa em algo para lançar. No ano passado, foi Tudo é minha culp a. Este ano, Casa Coração . Para o ano que vem, já estamos planejando o próximo.

Vai vir muita música boa, shows também. Tem alguns estados que eu não conhecia ainda e estou indo para conhecer. No Rio de Janeiro já está confirmado. Também irei a Sergipe, no Festival de Arte São Cristóvão. Também tem outros estados que ainda não posso divulgar. Tenho certeza que vai ser incrível.

Você também tem um projeto no Instagram, Me dá uma luz , que é uma parceria com os seus seguidores para te ajudarem com músicas. Como está essa iniciativa?

Eu costumo parar quando eu estou para lançar coisas. Então, parei um pouquinho antes do Tudo é minha culpa , meu primeiro álbum. Depois, voltei e fiz umas três. Eu tento parar para também não criar um vício.

Eu me esforço muito no Me dá uma luz, para não criar um vício em mim de compor apenas com as palavras que as pessoas me mandam, mas eu também me esforço para não criar um vício nas pessoas, para que elas também não dependam, não achem que eu apenas faço música com o Me dá uma luz .

Então, eu preciso criar esse intervalo, esse tempo. Mas o Me dá uma luz, no meu coração e também nas redes sociais, nunca vai morrer, porque me levou para muitos lugares e eu tenho um carinho muito grande pelo quadro. É um exercício muito legal para mim. Eu abro a caixa de perguntas, as pessoas colocam palavras aleatórias e eu acabo escrevendo com algumas palavras que aparecem. E isso é muito legal, um exercício muito bom de composição.

Conversa Bem Viver

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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Edited by: Maria Teresa Cruz

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