Anúncio de Trump é alívio para o Brasil e oportunidade para manufaturados, dizem especialistas
Julia Chaib, Washington, Eua (folhapress) - 03/04/2025 17:37:25 | Foto: Reprodução/White House
PAULO RICARDO MARTINS E NICOLA PAMPLONASÃO PAULO, SP E RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Apesar de apontarem impacto para alguns setores da indústria e para as exportações, especialistas ouvidos pela reportagem disseram que a tarifa de 10% sobre produtos brasileiros importados pelos EUA, anunciada pelo presidente Donald Trump nesta quarta-feira (2), é um alívio. A percepção é a de que a medida mostra que o Brasil não está entre os principais alvos do governo americano.
Trump anunciou no fim da tarde desta quarta uma lista de países incluídos em um tarifaço imposto por seu governo. A sobretaxa de 10% para o Brasil foi menor do que para alguns outros parceiros comerciais do EUA, como China (taxa de 34%), União Europeia (20%) e Japão (24%).
Fernanda Brandão, professora de relações internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rio, afirma que a adoção de uma sobretaxa mais branda, de 10%, mostra que o Brasil não está sendo percebido como uma ameaça significativa para a economia americana.
De acordo com Brandão, o cenário pode impulsionar o acesso de setores brasileiros -principalmente o de manufaturas mais básicas, como a indústria têxtil- a mercados americanos que antes eram abocanhados por outros países em desenvolvimento.
"O ajuste de preferência pelo produto nacional [americano] não é automático, fora que a produção dos EUA de alguns bens não é suficiente para atender a demanda doméstica. Então [os EUA] vai continuar comprando do exterior. Vários países asiáticos para os quais foram aplicadas tarifas mais altas são produtores de têxteis, por exemplo", afirma.
"Claro que haverá impacto para setores brasileiros que exportam, como o de aeronaves e o siderúrgico, mas não me parece que vai ser diretamente algo tão imediato e impactante como será para outros países, como a China", afirma Pedro Brites, professor de relações internacionais da FGV-S.
O economista André Perfeito diz que "para o Brasil saíram barato as tarifas".
"O que faz sentido, afinal, como tenho falado há algum tempo, temos déficits contra os EUA [na balança comercial], logo não seríamos alvo neste momento", diz.
A tarifa mais branda não é motivo para comemoração nem para lamentação, segundo o presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), José Augusto de Castro. Ele afirma, porém, que o patamar fixado para a tarifa significa um alívio para o Brasil.
"Pode dificultar alguma exportação, mas pouca coisa. Se nós tivermos condições de administrar nosso custo de produção, nós teremos a oportunidade de exportar alguma coisa a mais para os EUA, não apenas commodity, mas também manufaturados", diz.
A Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais) disse que a tarifa imposta por Trump não é uma medida positiva para o Brasil, mas "precisa ser analisada com mais profundidade".
"O impacto dependerá de como nossos concorrentes diretos foram tarifados. Se enfrentarem taxas ainda mais altas, pode haver uma vantagem competitiva para o Brasil, já que o custo adicional será repassado ao consumidor americano", afirma Flávio Roscoe, presidente da FIEMG, em nota.
Para o setor calçadista, é preciso avaliar a taxação anunciada pelo presidente americano a outros países grandes produtores de calçados, principalmente China, Vietnã e Indonésia.
"Esses países deverão perder competitividade no mercado americano, o que pode ser oportunidade para aumentar a exportação brasileira", diz o presidente da Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), Haroldo Ferreira.
"Por outro lado, China Vietnã e Indonésia não vão deixar de produzir. Vão pegar esses calçados e vão vender para outros mercados que o Brasil exporta. E podem disputar mercado no próprio Brasil."
Produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, estão entre os principais itens exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves. Segundo dados do governo americano, o Brasil está entre os três maiores fornecedores de aço ao país (ao lado de México e Canadá), com US$ 2,66 bilhões vendidos no ano passado.
Recentemente, Trump também anunciou tarifas sobre automóveis importados, medida que pode impactar o setor de autopeças nacional. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,3 bilhão em componentes do tipo para os Estados Unidos.
Trump já havia imposto tarifas de 20% sobre todas as importações da China e sobretaxas de 25% sobre aço e alumínio vindos de todos os países.
O republicano adiou a tarifa de 25% sobre a maioria dos produtos vindos de Canadá e México para pressioná-los a reforçar o combate ao tráfico de drogas e à imigração ilegal, embora essa medida deva expirar nesta quarta-feira.
Trump anuncia tarifas recíprocas sobre produtos de outros países e taxa Brasil em 10%
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2) que vai impor tarifas que ele considera recíprocas sobre produtos comprados de outros países. Em cerimônia na Casa Branca, o republicano disse que o objetivo é trazer empregos e fábricas de volta ao país.
Em quadro mostrado pelo presidente, o Brasil aparece com taxa de 10%. "Estamos sendo muito gentis, somos pessoas muito gentis. Nós vamos cobrar aproximadamente metade daquilo que eles nos cobram. As tarifas não serão completamente recíprocas", afirmou o republicano.
Em conversas oficiais antes do anúncio, o Brasil foi citado por autoridades do governo como um país que exige licenças para importar produtos agrícolas, em um exemplo dos tipos de barreiras que incomodam a gestão Trump.
Além disso, países de todos os países com os quais os Estados Unidos fazem comércio pagarão uma taxa linear de 10%, que entrará em vigor já neste sábado (5).
Trata-se do movimento mais forte do republicano até agora em direção ao que pode ser uma guerra comercial mundial. Trump se refere ao anúncio como o Dia da Libertação.
As chamadas tarifas recíprocas serão cobradas sobre países classificados como os que mais prejudicam os EUA pelo governo americano. As sobretaxas entrarão em vigor no dia 9 de abril.
Ao todo, cerca de 60 países sofrerão as tarifas extras mais duras. Um funcionário da Casa Branca afirmou, antes do anúncio, que as tarifas foram personalizadas para cada país, com números foram calculados usando metodologias bem estabelecidas.
Trump já havia imposto tarifas de 20% sobre todas as importações da China e sobretaxas de 25% sobre aço e alumínio vindos de todos os países.
O republicano adiou a tarifa de 25% sobre a maioria dos produtos vindos de Canadá e México para pressioná-los a reforçar o combate ao tráfico de drogas e à imigração ilegal, embora essa medida deva expirar nesta quarta-feira.
O governo brasileiro estava pessimista antes do anúncio e com poucos detalhes sobre como o Brasil seria atingido. Preparando-se para o que viria, o Senado aprovou nesta terça-feira (1º) um PL (projeto de lei) que autoriza o governo a retaliar comercialmente países que imponham barreiras discriminatórias contra produtos brasileiros, unindo a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à bancada ruralista. O texto deve ser apreciado na Câmara ainda nesta semana.
Como justificativa para a medida, o americano afirma que as demais nações exploram os Estados Unidos com tarifas elevadas de importação para produtos americanos. Argumenta também que esta é uma maneira de atrair fábricas para os EUA, numa tentativa de reindustrializá-lo em setores-chave.
A imposição das sobretaxas ocorre apesar do alerta de integrantes do mercado e do próprio governo Trump de que o ato pode gerar inflação nos EUA, além de prejudicar a relação com as demais nações.
Analistas do Deutsche Bank Research afirmaram nesta quarta que outros impostos a produtos estrangeiros já anunciados por Trump elevaram a tarifa média nos EUA para 12%. Em nota, eles dizem que este seria o nível mais elevado desde a Segunda Guerra Mundial.
O documento ainda afirma que as novas barreiras anunciadas nesta quarta por Trump podem ampliar a tarifa média aplicada pelos EUA a 18%, se aproximando de um nível registrado no país no início dos anos 1930, no período pós-aprovação Lei Tarifária Smoot-Hawley, o que contribuiu para a Grande Depressão.
O problema alertado por economistas é que a tendência é de as empresas repassarem os custos extras aos consumidores, impulsionando a inflação nos EUA.
Trump já anunciou sobretaxas ao Canadá, México e China, tarifou indústrias de automóveis, além do alumínio e o aço. O Brasil é um dos países mais afetados com as tarifas extras para o aço.
Produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, estão entre os principais itens exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves. Segundo dados do governo americano, o Brasil está entre os três maiores fornecedores de aço ao país (ao lado de México e Canadá), com US$ 2,66 bilhões vendidos no ano passado.
Recentemente, Trump também anunciou tarifas sobre automóveis importados, medida que pode impactar o setor de autopeças nacional. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,3 bilhão em componentes do tipo para os Estados Unidos.
TARIFAS RECÍPROCAS ANUNCIADAS POR TRUMP
Em %
País - Tarifa cobrada dos EUA # - Tarifa recíproca dos EUA ##
Austrália - 10 - 10
Bangladesh - 74 - 37
Brasil - 10 - 10
Cambodja - 97 - 49
Chile - 10 - 10
China - 67 - 34
Colômbia - 10 - 10
Coreia do Sul - 50 - 25
Filipinas - 34 - 17
Indonésia - 64 - 32
Israel - 33 - 17
Japão - 46 - 24
Malásia - 47 - 24
Paquistão - 58 - 29
Reino Unido - 10 - 10
Singapura - 10 - 10
Sri Lanka - 88 - 44
Suíça - 61 - 31
Tailândia - 72 - 36
Taiwan - 64 - 32
Turquia - 10 - 10
União Europeia - 39 - 20
Vietnã - 90 - 46
África do Sul - 60 - 30
Índia - 52 - 26
# incluindo manipulação do câmbio e barreiras não tarifárias ## com "desconto"
Fonte: Casa Branca
Trump anuncia tarifas recíprocas sobre produtos de outros países
JULIA CHAIB, WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira (2) que vai impor tarifas tarifas recíprocas sobre produtos comprados de outros países.
Trata-se do movimento mais forte do republicano até agora em direção ao que pode ser uma guerra comercial mundial. Trump se refere ao anúncio como o Dia da Libertação e chama as tarifas de recíprocas.
O governo brasileiro estava pessimista antes do anúncio e com poucos detalhes sobre como o Brasil seria atingido. Preparando-se para o que viria, o Senado aprovou nesta terça-feira (1º) um PL (projeto de lei) que autoriza o governo a retaliar comercialmente países que imponham barreiras discriminatórias contra produtos brasileiros, unindo a base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à bancada ruralista. O texto deve ser apreciado na Câmara ainda nesta semana.
Como justificativa para a medida, o americano afirma que as demais nações exploram os Estados Unidos com tarifas elevadas de importação para produtos americanos. Argumenta também que esta é uma maneira de atrair fábricas para os EUA, numa tentativa de reindustrializá-lo em setores-chave.
A imposição das sobretaxas ocorre apesar do alerta de integrantes do mercado e do próprio governo Trump de que o ato pode gerar inflação nos EUA, além de prejudicar a relação com as demais nações.
Analistas do Deutsche Bank Research afirmaram nesta quarta que outros impostos a produtos estrangeiros já anunciados por Trump elevaram a tarifa média nos EUA para 12%. Em nota, eles dizem que este seria o nível mais elevado desde a Segunda Guerra Mundial.
O documento ainda afirma que as novas barreiras anunciadas nesta quarta por Trump podem ampliar a tarifa média aplicada pelos EUA a 18%, se aproximando de um nível registrado no país no início dos anos 1930, no período pós-aprovação Lei Tarifária Smoot-Hawley, o que contribuiu para a Grande Depressão.
O problema alertado por economistas é que a tendência é de as empresas repassarem os custos extras aos consumidores, impulsionando a inflação nos EUA.
Trump já anunciou sobretaxas ao Canadá, México e China, tarifou indústrias de automóveis, além do alumínio e o aço. O Brasil é um dos países mais afetados com as tarifas extras para o aço.
Produtos semiacabados de aço, como blocos e placas, estão entre os principais itens exportados pelo Brasil aos EUA, ao lado de petróleo bruto, produtos semiacabados de ferro e aeronaves. Segundo dados do governo americano, o Brasil está entre os três maiores fornecedores de aço ao país (ao lado de México e Canadá), com US$ 2,66 bilhões vendidos no ano passado.
Recentemente, Trump também anunciou tarifas sobre automóveis importados, medida que pode impactar o setor de autopeças nacional. Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,3 bilhão em componentes do tipo para os Estados Unidos.
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