Um Brasil que não respeita as mulheres

As discriminações no ambiente de trabalho com as diferenças salarias entre homens e mulheres e as oportunidades diferentes de crescimento dentro da profissão evidenciam essas injustiças mesmo em pleno século 21.

Um Brasil que não respeita as mulheres
Um Brasil que não respeita as mulheres

Por Circe Cunha - Visto, Lido E Ouvido - 14/03/2019 09:01:02 | Foto: Pixabay

Dados fornecidos pelo Núcleo da Violência da Universidade de São Paulo (USP), em conjunto com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostraram que a cada duas horas, uma mulher é morta de forma violenta no país. O grau de violência contra as mulheres, de todas as idades e das mais variadas camadas sociais, seu principal alvo, demonstra de forma cabal que existe em nossa população uma patologia e uma anomalia de tal proporção que, não seria exagerado considerar que a sociedade brasileira parece rumar para sua própria desintegração.


Observem que esse é um dado verídico que apresenta apenas aqueles casos que culminaram com a morte, de forma absolutamente criminosa, dessas mulheres. Se formos levar em conta também as denúncias feitas formalmente por mulheres que foram vítimas de violência doméstica, de ameaças e de assédios sexuais, de estupros e mesmo assédios morais praticados nos locais de trabalho, os registros não deixam dúvidas de que ser mulher neste país é uma missão que envolve altíssimos riscos.


O que mais chama a atenção, nesses dados é que esse tipo de crime vem aumentando a uma taxa de quase 10% ao ano, isso, de acordo apenas com as estatísticas oficiais. Ocorre que esse tipo de violência, quando praticada por pessoa da família, não chega sequer a ser denunciado às autoridades. Daí que muitos acreditam que os dados reais relativos às práticas de violência contra as brasileiras são estarrecedores.


De tão recorrentes e bárbaros, foi preciso o estabelecimento de uma nova tipicidade de crime, no caso o feminicídio, como forma de conter essa escalada de violência. Infelizmente, a criação de delegacias especiais para o atendimento de mulheres e leis como a Maria da Penha e a inclusão do feminicídio como crime hediondo, com endurecimento severo nas penas, não tiveram o condão de abrandar os registros de violência contra as mulheres no Brasil. Além da violência física e moral, as mulheres são vítimas, também, de uma outra forma de crime, aceita por muitos como fatos de menor importância, mas que demonstram um certo comportamento misógino enraizado em nossa cultura há séculos. As discriminações no ambiente de trabalho com as diferenças salarias entre homens e mulheres e as oportunidades diferentes de crescimento dentro da profissão evidenciam essas injustiças mesmo em pleno século 21.


Um outro caso de flagrante discriminação contra as mulheres ocorreu durante as últimas eleições. Para burlar a lei eleitoral que obriga uma cota mínima de 30% de mulheres na lista de candidatos ao Legislativo, muitos partidos passaram a adotar a estratégia de candidaturas do tipo “laranja”, na qual mulheres são inscritas, não realizam campanhas e devolvem o dinheiro do fundo eleitoral e partidário para os caciques desses partidos, que dão a destinação que bem querem a esses recursos públicos. Com isso, a representação feminina no Congresso e nas assembleias legislativas permanece desigual, em torno de 30% , isso para um país onde em cada dez habitantes, cinco são do sexo feminino.


Esse fato não é apenas um desrespeito e um crime praticado contra as mulheres, mas um grave delito contra a própria democracia representativa e o futuro do país.

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