General atacado por bolsonaristas critica os que 'não reconhecem' erros e diz que Exército respeita lei

O general Richard passou à reserva em agosto

General atacado por bolsonaristas critica os que 'não reconhecem' erros e diz que Exército respeita lei
General atacado por bolsonaristas critica os que 'não reconhecem' erros e diz que Exército respeita lei

Fabio Victor, São Paulo, Sp (folhapress) - 21/11/2025 10:03:28 | Foto: Divulgação

Recém transferido à reserva enquanto ocupava o posto de chefe do Estado-Maior do Exército (o número dois da corporação), o general Richard Fernandez Nunes afirma que resistir aos apelos do bolsonarismo por um golpe era "a única postura plausível e imaginável para um chefe militar".

Em entrevista à reportagem, o oficial, hoje diretor-geral do Censipam (Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia), diz que a obrigação de líderes militares "com a responsabilidade que eu e outros tínhamos [integrava o Alto Comando do Exército] naquele momento [após a vitória de Lula e com as pressões por um golpe] era a de se manter estritamente conforme a legislação do país e no estrito cumprimento do dever legal".

O general Richard -nome de guerra pelo qual é chamado- foi um dos personagens mais influentes da principal Força Armada nos últimos anos. Antes de ser chefe do Estado-Maior, foi comandante da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme), secretário de Segurança Pública do RJ durante a intervenção federal, chefe do Centro de Comunicação Social, comandante militar do Nordeste e chefe do Departamento de Educação e Cultura, entre outras funções.

Em meio à turbulência política iniciada após a vitória de Lula sobre Bolsonaro no segundo turno, que culminou com os ataques de 8 de Janeiro, bolsonaristas atacaram Richard e outros integrantes do Alto Comando do Exército por rejeitaram aderir a intentos golpistas para impedir a posse do presidente eleito.

Ainda que parte deles se identificasse com ideias bolsonaristas e compartilhasse críticas ao Judiciário e à imprensa feitas por correligionários do então presidente, foram chamados pelos acusadores de "generais melancia" -verdes por fora, pela cor da farda do Exército, e vermelhos por dentro (supostamente comunistas).

Indagado se chefes militares não foram coniventes com a politização das Forças Armadas, ao se integrar ao governo Bolsonaro ou ao incentivar os acampamentos golpistas em frente aos quarteis, Richard respondeu que o legalismo era a única saída, e complementou:
"Fiz isso [se manteve na legalidade], e se isso proporcionou narrativas críticas de determinadas pessoas descontentes, as quais inclusive normalmente não reconhecem ter feito nada de errado, então paciência", declarou o general.

"Minha consciência está muito tranquila de que eu e o meu comandante naquele momento [foram três no período mais turbulento, Freire Gomes, Arruda e Tomás] tomamos as atitudes que deveríamos tomar e continuamos nessa mesma senda por toda a vida. Acho que isso é uma questão ética, de ser íntegro e fazer o que é certo, o que foi ensinado a fazer desde que entrou no Exército."
O general Richard -que passou à reserva em agosto e assumiu o Censipam em setembro- não quis fazer comentários sobre a condenação de Bolsonaro e militares de alta patente pelo Supremo Tribunal Federal.

"Esse é um assunto que esteve sempre na esfera judicial, e quem deve opinar sobre isso é quem atua no Ministério Público ou no Poder Judiciário. Não cabe a mim nenhum tipo de comentário nesse sentido."
Nomeado secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro em 2018 pelo interventor Braga Netto, durante a intervenção federal no setor, Richard tampouco quis comentar a recente operação policial nos complexos da Penha e do Alemão que resultou em 121 mortes.

"Não acompanho mais a segurança pública no Rio de Janeiro, a não ser como um cidadão que acompanha pela mídia, então é difícil opinar quando não se domina os meandros e informações necessárias a uma tomada de decisão."
O general, porém, observou que, no centro que dirige atualmente -um órgão de geointeligência cujo objetivo autodeclarado é "promover a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável" por meio de captação de dados- o combate a ilícitos na Amazônia e nas fronteiras é relevante.

"É um dos nossos pontos-chave de atuação. Estamos implantando o Laboratório Integrado de Geointeligência, para modelagem das redes de crime organizado que atuam na amazônia. Aí sim, a minha experiência conta. Não tenho dúvida que só se combate facções do crime organizado com sofisticação tanto na parte de inteligência como na parte operacional."

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