Jorge Bodanzky filma a destruição da Amazônia com maestria

O contraste é quase um resumo da região hoje. Ele nos conduz a uma espécie de filme de terror.

Jorge Bodanzky filma a destruição da Amazônia com maestria
Jorge Bodanzky filma a destruição da Amazônia com maestria

Inácio Araújo, (folhapress) - 02/09/2025 07:23:34 | Foto: Indígenas Munduruku foram visitados por expedição de saúde sobre contaminação de mercúrio, entre outubro e novembro de 2019. Foto: Divulgação.

No começo de "Amazônia, A Nova Minamata?", que estreia nos cinemas nesta quinta-feira, um voo suave registra uma Amazônia verde e pulsante. Logo em seguida, como num susto, o barro se une ao verde, a clareira domina a paisagem e polui as águas que a permeiam.

O contraste é quase um resumo da região hoje. Ele nos conduz a uma espécie de filme de terror. Estamos em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro, e a saúde dos indígenas munduruku tende a definhar. A luta contra os garimpeiros, que abrem as imensas clareiras, é muito desigual.

O garimpo traz ouro que, legal ou ilegal, movimenta a economia de uma cidade próxima. A floresta traz o quê? Nada, em princípio. Então vamos avançar no ouro. Para avançar no ouro é preciso mercúrio. Lançar toneladas de mercúrio na água. E mercúrio é coisa que mal se vê. Ele contamina. Mas o que isso significa exatamente quase ninguém sabe.

É então que Jorge Bodanzky nos introduz a uma sessão de terror documental. Recorre a imagens de arquivo e nos leva à cidade de Minamata, no Japão, onde em 1956 começaram a ser identificados os primeiros casos de uma doença que ficaria conhecida como mal de Minamata, justamente porque lá aconteceram os horríveis casos que, no entanto, temos obrigação de ver. As consequências da contaminação pelos efeitos do mercúrio são atrozes.

O doutor Erik Jennings, neurologista, ocupa-se dos indígenas, faz exames exaustivos nos pacientes, como forma de detectar a doença. Também testa as mulheres grávidas, pois a doença pode ser transmitida por elas e afetar o cérebro dos que vão nascer.

Ele não está sozinho, mas quase. Existem os universitários que aparecem em missão, as ONGs, que não por acaso o governo da extrema direita maldizia, a Polícia Federal, que monitora e constata a deterioração da floresta.

Para os munduruku a situação é dramática, pois passam a depender dos brancos para sobreviver. Não só dos médicos, porque a pesca já não pode acontecer e a água que antes a tribo consumia não pode mais ser consumida.

E isso não se restringe apenas a eles. Esses peixes são pescados e acabam em mercados públicos, do Pará -onde vivem os munduruku-, mas também de qualquer lugar para onde os peixes são levados e vendidos.

Para resumir, o que Bodanzky deu ao filme, que fala de uma "nova Minamata", não é sensacionalista. Ao contrário, é até modesto diante da possibilidade de catástrofe que se abre num território pelo menos dez vezes maior do que o do Japão.

Para chegar a esse documentário vale lembrar que Bodanzky praticamente dedicou sua carreira à Amazônia e à proteção dos seus habitantes. Seria bem difícil a um cinegrafista ou cineasta menos familiarizado com a região captar com tão silenciosa eloquência a brutalidade com que o garimpo mancha os rios e ameaça a vida dos ribeirinhos.

Indígenas, quilombolas e mesmo brancos da região são imediatamente atingidos pela catástrofe. Mas o pior mesmo é que a destruição tende a alcançar todos nós, sem nenhuma exceção.

AMAZÔNIA, A NOVA MINAMATA?
Avaliação Ótimo
Quando Estreia nesta qui. (4) nos cinemas
Classificação 10 anos
Produção Brasil, 2022
Direção Jorge Bodanzky

Comentários para "Jorge Bodanzky filma a destruição da Amazônia com maestria":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório