Estudo desenvolvido no Laboratório Nacional de Biociências resultou em descoberta que pode antecipar ou prever a progressão da doença.
Da Assessoria De Comunicaqção / Do Ministério Da Ciência, Tecnologia, Inovações E Comunicações / Foto: Pública - Pixabay - 13/12/2018 12:04:07 | Foto:
Uma pesquisa do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio) identificou a relação entre a abundância de proteínas presentes no tecido tumoral e na saliva com a progressão do câncer de boca. A descoberta surge como um parâmetro capaz de antecipar ou prever a progressão da doença, além de superar as limitações dos exames clínicos e de imagem utilizados e orientar a escolha do tipo de tratamento ideal para cada paciente.
O estudo começou com a análise proteômica de diferentes áreas do tecido tumoral utilizando-se 120 amostras microdissecadas. “O conjunto de dados nos levou a ter um resultado robusto e bastante promissor na definição da gravidade da doença. Além de sugerirmos marcadores potenciais da doença em uma primeira fase, também verificamos esses marcadores em uma segunda fase da pesquisa, o que confere mais confiabilidade aos achados, mostrando que esses marcadores são eficientes para classificar o paciente com metástase em linfonodo cervical”, explicou a pesquisadora Adriana Franco Paes Leme, do LNBio, que fica no Centro Nacional de Pesquisas em Energia e Materiais (CNPEM), em Campinas (SP).
O câncer de boca, também chamado de carcinoma espinocelular (CEC), é o tipo mais comum de tumor maligno de cabeça e pescoço. Tem alta prevalência e mortalidade, com cerca de 300 mil novos casos diagnosticados por ano no mundo e 145 mil mortes. Embora seja relativamente fácil de ser detectado por feridas na boca identificadas por dentistas, geralmente o diagnóstico é feito quando a doença já está em estágio avançado.
“O estudo levou cinco anos até chegarmos a essa descoberta. Foi dividido em duas fases. Na primeira, usamos a proteômica baseada em descoberta, quando identificamos e quantificamos as proteínas dos tecidos tumorais. Na segunda fase do estudo foram feitas análises por imuno-histoquímica e também por proteômica baseada em alvos ou dirigida – onde sabíamos exatamente quais proteínas precisávamos quantificar”, afirmou Adriana.
A proteômica é o estudo de um conjunto de proteínas em uma amostra, seja em tecido ou célula, onde é possível identificar, quantificar, determinar modificações, localizar, avaliar atividade e interações de proteínas.
Na segunda fase do estudo, após identificar e quantificar as proteínas nas 120 amostras de tecido tumoral, os pesquisadores utilizaram duas estratégias para a verificação das proteínas. “Em uma estratégia, avaliamos a abundância das proteínas selecionadas em amostras independentes de tecido de pacientes utilizando anticorpos por meio da imuno-histoquímica. Outra estratégia foi utilizar a saliva de pacientes, na qual monitoramos esses mesmos alvos pré-selecionados”, revelou a pesquisadora.
Segundo ela, o fluido foi escolhido uma vez que a lesão de câncer está localizada na boca, onde as células neoplásicas poderiam secretar proteínas. “A saliva é uma fonte promissora de marcadores, além de ser um fluido obtido por meio de coleta não invasiva. Para tanto, foram verificadas as proteínas na saliva de 40 pacientes e, para obter maior confiabilidade do resultado nessa fase do estudo, as análises foram feitas em triplicatas técnicas.”
Após a análise em amostras de saliva de pacientes, os pesquisadores utilizaram técnicas de bioinformática e de aprendizado de máquina para chegar à assinatura de prognóstico – verificar quais as proteínas ou peptídeos selecionados na primeira fase poderiam separar os pacientes com e sem metástase em linfonodo cervical. “Além disso, também tínhamos a valiosa informação sobre a evolução clínica dos pacientes que participaram de forma voluntária do estudo, por meio da doação das amostras de saliva”, disse Adriana Paes Leme.
A partir desse resultado foi possível definir a assinatura de três peptídeos específicos, capazes de classificar os pacientes com e sem metástase em linfonodos cervicais, com grande potencial de ajudar os clínicos a superar as limitações dos exames e guiar as estratégias de tratamento personalizado.
A equipe de cientistas está dando andamento a uma nova pesquisa que tem por objetivo atuar de forma translacional e acessível na construção de biossensores para detectar essa assinatura de prognóstico na saliva de pacientes. Atualmente, os peptídeos podem ser identificados e quantificados por análise de espectrometria de massas e proteômica, técnicas custosas e incomuns em clínicas e hospitais.
“Queremos desenvolver um método mais simples, barato e acessível para profissionais da saúde para avaliar a progressão da doença a partir de testes que poderão ser feitos no consultório odontológico, consultório médico ou em laboratórios clínicos. No trabalho que acabamos de publicar, foi possível identificar essa assinatura de prognóstico por espectrometria de massas. Nossa ideia é desenvolver um biossensor focado na utilização dessa assinatura de prognóstico, para que tenha uso clínico, e orientar a definição do tratamento”, afirmou a pesquisadora.
O trabalho foi conduzido em parceria com o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp), a Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas (FOP-Unicamp), o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP), o Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas e a Faculdade de Odontologia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.
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