Eliane Xunakalo ressalta papel das mulheres na preservação dos saberes e na política
Por adele Robichez, gabriela Carvalho e lucas Krupacz - Bdf - 05/09/2025 16:58:43 | Foto: Eliane Xunakalo é cofundadora da Anmiga | Reprodução/Redes sociais
O Dia Internacional da Mulher Indígena, celebrado desde 1983, é lembrado nesta sexta-feira (5) como símbolo de resistência e afirmação da luta das mulheres indígenas e camponesas. No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022, são mais de 860 mil mulheres indígenas, que enfrentam altos índices de violência, informalidade no trabalho e barreiras para acessar direitos básicos.
Em entrevista ao Conexão BdF , da Rádio Brasil de Fato, Eliane Xunakalo, cofundadora da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga), afirma que a data é tanto de celebração quanto de reflexão. “A data é importante porque ela celebra a mulher indígena. Ser mulher indígena é ser guardiões da cultura, ser guardião dos biomas e, acima de tudo, é resistência”, explica.
Xunakalo destaca que as mulheres indígenas são fundamentais para a preservação de saberes ancestrais. “Primeiro que ela educa seus filhos, ela repassa o seu saber. Então, ela que ensina a língua, os cantos, a forma de lidar [com as situações], e repassa o conhecimento que foi da sua avó, da sua mãe, da sua tataravó”, menciona. Além do papel na educação, ela acrescenta que as mulheres ocupam espaços de liderança em comunidades e, cada vez mais, também na sociedade não indígena.
Apesar dos avanços recentes, como a eleição da deputada federal Célia Xakriabá (Psol-MG) e nomeação de Sonia Guajajara (Psol-SP) para o Ministério dos Povos Indígenas, a fundadora da Anmiga avalia que a representatividade ainda é insuficiente. “Célia tem desempenhado um papel importante, mas é necessário haver outras mulheres indígenas ocupando [a política] para que tenhamos incidência”, defende. Para ela, a atuação política deve ser guiada pelo coletivo. “Fazer política é pensar no coletivo, é pensar no bem viver de uma sociedade”, complementa.
Segundo Xunakalo, garantir os direitos das mulheres indígenas exige políticas públicas efetivas e visibilidade. “Há uma necessidade de visibilidade. A Marcha das Mulheres Indígenas, que acontece todo ano, é uma iniciativa para dar visibilidade, ecoar as vozes das mulheres que estão nos territórios e ecoar essas ameaças que nos atingem”, aponta. A macha foi realizada entre os dias 2 a 8 de agosto, em Brasília.
A data também coincide com o Dia da Amazônia. Para Eliane, a floresta e as mulheres indígenas compartilham características. “Quando eu comparo a Amazônia com a mulher, eu digo que ela é complexa, ela é bela, mas precisa de visibilidade, de respeito, e principalmente [também] para quem cumpre o dever de ser guardião da Amazônia”, diz.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de Fato , 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.
Editado por: Geisa Marques
Comentários para "‘Guardiãs da cultura e dos biomas’, mulheres indígenas celebram dia internacional como resistência":