Bolsonaro faz ato de campanha para intimidar (e com recursos públicos)

Presidente Jair Bolsonaro faz passeata de motocicleta no Rio de Janeiro

Bolsonaro faz ato de campanha para intimidar (e com recursos públicos)
Bolsonaro faz ato de campanha para intimidar (e com recursos públicos)

Por Matheus Leitão - Revista Veja - 24/05/2021 11:13:13 | Foto: Reprodução Twitter

A manifestação deste domingo, 23, é tentativa clara de intimidação. E a presença de Pazuello tinha um propósito

A “motociata” deste domingo, 23, do presidente Jair Bolsonaro é uma tentativa de intimidação de todos os adversários políticos. Uma multidão de motos em algazarra pela cidade faz mais barulho do que a força eleitoral que efetivamente tem, mas há inúmeras ilegalidades nesse ato.

O mais evidente foi a presença do general Eduardo Pazuello, oficial da ativa do Exército, na “motociata” totalmente política. É mais uma fronteira que as Forças Armadas atravessam desrespeitando o estatuto militar. Qualquer punição que não seja o general ser colocado compulsoriamente na reserva será pequena.

Fato é que se trata de um precedente perigoso. E o presidente quer esse precedente quebrado. Ele fez de caso pensado. Primeiro, tirou o general Edson Pujol para ter um Exército colaborativo. Agora, quer testar o novo comandante. No próprio domingo, 23, Pazuello mandou um pedido de desculpas ao general Paulo Sérgio.

Se a punição for branda, se Pazuello continuar sendo apenas “instado” a ir para a reserva, como tem sido desde o ano passado, se ficar claro que Pazuello é que decide seu destino, o estatuto estará desmoralizado. Para Bolsonaro, bastam as aparências. Ele quer que fique parecendo que tem o controle do Exército para o seu projeto político. Isso intimida adversários, as forças políticas em geral e as instituições.

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Outro ponto fundamental: o presidente está usando recursos públicos para fazer campanha eleitoral antecipada e isso é crime. Bolsonaro usa avião da presidência para os deslocamentos. Ele tem usado helicópteros da Força Aérea para sobrevoar manifestação, como as que ocorrem em Brasília frequentemente. Mobiliza a segurança, os assessores da presidência, tudo como se fosse um ato de governo. Mas é um evento de campanha.

A “motociata” teve também mais um elemento do projeto autoritário que move o presidente da República. A hostilidade contra a imprensa, o uso da força da multidão para ameaçar o jornalista Pedro Duran, da CNN Brasil. É uma forma de intimidar toda a imprensa.

Já o barulho das motos serviu para assustar a classe média que se distancia de Bolsonaro, além de outra parte que sempre foi anti-Bolsonaro. O ronco dos motores, os gritos são para dizer que está “tudo dominado”. Para abater o moral da tropa que ele considera inimiga. E é também para acordar seus militantes, que andam desanimados pelas muitas baixas, nas demissões dos ministros e assessores mais radicais como Ernesto Araújo, Abram Weintraub, Fabio Wajngarten.

O que Bolsonaro quis dizer neste domingo, 23, foi que jogará com violência contra quem quiser impedir seu projeto de mais um mandato. Por isso, as redes sociais trouxeram de volta a foto de Benito Mussolini numa manifestação de motocicleta. Qualquer semelhança não é coincidência.

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