Comemorações do 25 de Abril voltam às ruas portuguesas, mas com precauções

O dia de hoje marca 47 anos desde que Portugal virou uma página importante em sua história – o fim da ditadura militar do Estado Novo, resultando na entrada da Democracia no país, bem como no início do fim da tenebrosa Guerra Colonial.

Comemorações do 25 de Abril voltam às ruas portuguesas, mas com precauções
Comemorações do 25 de Abril voltam às ruas portuguesas, mas com precauções

Portal Sputnik Brasil - 25/04/2021 08:32:18 | Foto: Portal Sputnik Brasil

Como sempre, a cerimônia comemorativa desta data tão importante terá lugar na Assembleia da República, o parlamento português, e foi marcada para as 10h00 (06h00, no horário de Brasília). Na cerimônia estão previstas as presenças do presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, e dos principais representantes de cada partido político no parlamento.

Por razões de saúde pública relacionadas com a pandemia da COVID-19, o número de participantes será reduzido, cabendo ao chefe de Estado fechar a cerimônia com um discurso. Tal como todos os outros participantes, que terão a palavra antes do presidente, Marcelo Rebelo de Sousa falará da importância deste dia para o povo português, das portas que foram abertas para o país, das novas oportunidades que foram dadas à sociedade, dos desafios que ainda permanecem por enfrentar e como, juntos, os cidadãos portugueses poderão os ultrapassar.

Cravos, poesia e música pelas ruas

No ano passado, as comemorações do 25 de Abril decorreram de uma maneira minimalista na Assembleia da República, sem direito a desfile pela Avenida da Liberdade, no centro de Lisboa, nem guarda de honra.

Porém, neste ano foi tomada a decisão de voltar a fazer desfile, estando os organizadores do mesmo em constante contato com a Direção-Geral da Saúde, a Polícia de Segurança Pública e a Câmara de Lisboa de modo a determinar as condições a serem respeitadas para que o aguardado evento se realize, informou Vasco Lourenço, presidente da Associação 25 de Abril, ao jornal Público.

Sessão no Parlamento português em homenagem à Revolução dos Cravos, com número restritos de participantes por causa da pandemia

© Foto / Sandra Ribeiro / Assembleia da República Portuguesa

Sessão no Parlamento português em homenagem à Revolução dos Cravos, com número restritos de participantes por causa da pandemia

As entidades que integram o desfile, previsto para a tarde de hoje, devem preencher um registro das pessoas que vão participar e determinar o lugar que ocuparão na marcha, de modo a facilitar eventuais contatos com as autoridades sanitárias. Evidentemente, o uso da máscara será obrigatório.

Para os restantes cidadãos que não possam participar do desfile é incentivada sua presença nas janelas de suas moradias e outros edifícios, erguendo cravos vermelhos e entoando, junto com o resto da multidão, as célebres canções "Grândola Vila Morena", da autoria do cantor Zeca Afonso, e "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho, e acompanhando o clamar de poesia revolucionária, bem como de outras cantigas alusivas a esta data e à luta contra o governo António de Oliveira Salazar.

O que foi exatamente o 25 de Abril?

Desde 1961 que a Guerra Colonial, também conhecida como Guerra do Ultramar, persistia entre Portugal e as frentes de libertação das ex-colônias portuguesas na África, nomeadamente Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Com o passar dos anos, esta provou ser insustentável para o país, não só em termos econômicos, mas também humanos, com o envio maioritariamente forçado de jovens portugueses para o campo de batalha.

Hoje, é estimado que mais de oito mil soldados portugueses tenham morrido na Guerra Colonial, sendo que mais dos 15 mil que regressaram com vida apresentaram – e alguns ainda apresentam – graves problemas físicos e psicológicos.

Dentro das Forças Armadas de Portugal existiam vários setores que se opunham à guerra na África, formando o Movimento das Forças Armadas (MFA) com o objetivo de derrubar o governo de Marcelo Caetano – primeiro-ministro de Portugal entre 1968 e 1974, e de certo modo sucessor de Salazar, após sua morte em 1970 – através de um golpe militar.

Salgueiro Maia no Largo do Carmo

© Foto / Acervo da Associação 25 de Abril

Salgueiro Maia no Largo do Carmo

O MFA, liderado pelos chamados Capitães de Abril Salgueiro Maia, Vítor Alves, Otelo Saraiva de Carvalho e Vasco Lourenço, iniciou o golpe militar ainda na noite de 24 de Abril de 1974, sendo que na madrugada do dia seguinte, com a emissão pela rádio da canção "Grândola Vila Morena" de Zeca Afonso – que teria sido banido da rádio portuguesa durante o regime salazarista – o MFA transmitiu também sinais às suas forças para se dirigirem para pontos estratégicos do país.

Percebendo o que estava acontecendo, a população juntou-se aos militares, colocando cravos vermelhos nos canos das armas deles. Por fim, Marcelo Caetano abdicou do poder e fugiu para o Brasil, onde acabou por morrer seis anos mais tarde, e a democracia poderia finalmente nascer na República Portuguesa.

O que mudou após a Revolução dos Cravos?

Até hoje, Portugal sente a influência do fim do Estado Novo. De uma maneira resumida, estas foram as principais mudanças ocorridas: as colônias foram liberadas, se bem que muitos especialistas criticam o modo apressado como Portugal se retirou das mesmas sem transições graduais da autoridade portuguesa para os novos governos africanos independentes; o direito ao voto universal em 25 de Abril do ano seguinte, no qual as mulheres passaram a poder votar sem qualquer tipo de restrições; foi dado ênfase à alfabetização no país, uma vez que grande parte da população portuguesa, especialmente nas zonas do interior, mal sabia ler e escrever, entre outros marcos progressivos.

Por causa da pandemia, portugueses celebram Revolução dos Cravos cantando nas janelas de casa

© Sputnik / Caroline Ribeiro

Por causa da pandemia, portugueses celebram Revolução dos Cravos cantando nas janelas de casa

Atualmente, a República Portuguesa ainda tem muitos desafios em vários setores sociais, nomeadamente em questões religiosas (sendo a Igreja Católica predominante), de racismo, de direitos da mulher e da luta pelos direitos da comunidade LGBTQ+. Ainda existem, de igual modo, forças políticas saudosistas dos tempos de António de Oliveira Salazar, contudo, é esperado que um país que se tornou livre há menos de 50 anos não queira de novo regredir em todo seu caminho e toda sua luta por um Portugal livre, seguro e democrático.

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