O Instituto AfroOrigens, organização que se dedica a mapear registros da diáspora africana, receberá aporte de US$ 295 mil.
Foto: Reprodução ilustração- © IMAGEM CEDIDA/SLAVE WRECKS PROJECT
O Instituto AfroOrigens, organização que se dedica a mapear registros da diáspora africana, receberá aporte de US$ 295 mil.
Yuri Eiras, Rio De Janeiro, Rj (folhapress) - 11/12/2024 06:09:24 | Foto: Reprodução ilustração- © IMAGEM CEDIDA/SLAVE WRECKS PROJECT
Está naufragado em Angra dos Reis, município do sul fluminense a cerca de 156 km do Rio de Janeiro, fragmentos do que pode ser uma das últimas embarcações documentadas a transportar africanos para o Brasil, vítimas do período da escravidão.
Foi um naufrágio proposital, segundo documentos da época. O capitão Nathaniel Gordon, do Maine, nos Estados Unidos, afundou o brigue Camargo em 1852, depois de desembarcar 500 pessoas que saíram à força de Moçambique para trabalhar nas fazendas de café em Angra. Muitos morreram durante a travessia.
Gordon queria ocultar registros do navio porque a lei Eusébio de Queiroz proibia o tráfico de pessoas escravizadas no Brasil desde 1850.
O capitão Gordon foi capturado no Congo, condenado e sentenciado à morte em 1862, nos Estados Unidos. É o único americano executado por tráfico de africanos.
O Camargo, embarcação à vela, de dois mastros, é o último navio escravista documentado, até o momento. Estudos arqueológicos estão perto de confirmar que os pedaços do Camargo estão no fundo da enseada do Bracuí, em Angra dos Reis.
O Instituto AfroOrigens, organização que se dedica a mapear registros da diáspora africana, receberá aporte de US$ 295 mil (cerca de R$ 1,7 milhão) para ações de conservação dos destroços. O valor é do Fundo dos Embaixadores dos Estados Unidos para Preservação Cultural (AFCP, na sigla em inglês).
O aporte foi oficializado nesta terça-feira (10) pelo Consulado dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, em cerimônia no Muhcab (Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira).
O fundo selecionou 34 projetos ao redor do mundo em 2024, apenas um no Brasil.
"Este projeto foi um bom exemplo dos tipos de que gostamos de fazer em todo o mundo. Este programa não é somente para o Brasil, é uma seleção global, o que significa quão importante ele é", afirma à Folha de S.Paulo o cônsul-geral dos Estados Unidos no Rio de Janeiro, Ryan Rowlands.
Este, contudo, será o 11° projeto brasileiro de conservação financiado pelo fundo, lançado pelo Departamento de Estado americano em 2001.
Já foram contempladas ações como a preservação de coleção fotográfica compilada por dom Pedro 2°, a documentação da cultura indígena no Mato Grosso do Sul, a manutenção do sítio arqueológico do Cais do Valongo, no Rio, e a preservação de conhecimento do povo tikmuun-maxakali, no Vale do Mucuri, em Minas Gerais.
O aporte para conservação do que pode ser o navio Camargo prevê atividades de mergulho, mapeamento 360° do sítio arqueológico e a preservação, documentação e análise de estruturas e artefatos que forem encontrados. O projeto, com duração prevista de três anos, também vai contemplar a proteção da memória da comunidade quilombola que vive na região de Santa Rita do Bracuí.
Os moradores do lugar têm sido importantes no projeto. Na tradição oral da comunidade quilombola já existia a história de um naufrágio proposital. O relato foi colhido por pesquisadores. Um dos sítios arqueológicos subaquáticos foi indicado através dessas histórias.
Membros da comunidade foram contratados. O acordo prevê que eles aprendam técnicas de iniciação à arqueologia, mergulho submarino, documentação e produção audiovisual.
"Entendemos que criamos um vínculo forte com qualquer país se valoramos sua história e sua cultura. As comunidades afrodescendentes, os quilombolas aqui no Brasil e os afro-americanos dos Estados Unidos, contribuem muito à sociedade e têm uma história difícil. Aprender essa história e avançar é o objetivo do projeto", afirma o cônsul-geral.
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