Trump também vai restringir o visto permanente dos jornalistas.
Por rui Martins - Observatório Da Imprensa, Edição 1356 - 20/09/2025 18:46:27 | Foto: © FERNANDO FRAZÃO/AGENCIA BRASIL
Deram um tiro lá longe no Estado do Utah, nos EUA, e o estampido ressoou forte nas periferias, agitando principalmente as redes sociais da extrema direita brasileira, revoltadas com o vídeo postado no Instagram e YouTube pelo influenciador e youtuber Eduardo Bueno, conhecido como Peninha, também jornalista, escritor, historiador, cujo estilo teatral no Canal Buenas Ideias, é irônico, jocoso, satírico, sarcástico e ferino.
Poderíamos dizer que Peninha transpõe para as telas dos celulares e dos computadores os lances desprezíveis e imorais do cotidiano político brasileiro, tipos PECs da blindagem, da bandidagem e da anistia para os chefes golpistas, sem rodeios, em tintas mais fortes que as do Pasquim .
Peninha gosta da maneira crua de se dizer as coisas, mais próxima do humor francês dos jornais Canard Enchainé , Charlie Hebdo e Hara-Kiri , vindos da liberdade inspirada pela Revolução Francesa.
E aqui ocorre uma contradição nos defensores do chamado pleno direito à liberdade de expressão vigente nos Estados Unidos. Essa liberdade só funciona para os detentores do poder, quem a ultrapassa é imediatamente punido, como acaba de ocorrer com o animador Jimmy Kimmel, cujo show noturno de sucesso nos EUA com seu nome acaba de ser suspenso pela TV ABC, por ter criticado indiretamente o governo. Jimmy Kimmel, que já foi mestre de cerimônias na entrega dos Oscars, pagou pela frase “Atingimos novos patamares neste fim de semana, com a camarilha MAGA tentando desesperadamente retratar esse jovem Tyler Robinson, que assassinou Charlie Kirk, como alguém diferente de um deles e fazendo tudo o que pode para obter vantagem política com isso”. MAGA, Make America Great Again, é a abreviação do movimento de extrema direita de Trump, popularizado nos bonés vermelhos de seus seguidores e usado também pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, virtual candidato à presidência.
O caso do tiro matando o líder da extrema direita norte-americana Charlie Kirk está provocando uma caça aos que fizeram comentários considerados maldosos ou irreverentes nas redes sociais, com demissões de professores, funcionários públicos e privados, estimuladas pelo presidente Donald Trump e por seu vice, J D Vance.
Existe mesmo uma campanha para anulação de vistos de permanência de estrangeiros que ironizaram o assassinato de Charlie Kirk. Para isso se incentivam denúncias, utilizando cópias de mensagens enviadas por e-mail ou redes sociais.
Os Estados Unidos estão retornando ao período do macartismo, enquanto já começa a circular o receio de que o atual autoritarismo trumpista possa levar a uma inédita ditadura no país da Liberdade, comandada por Trump, Vance e Marco Rúbio.
O envio de reforços da Guarda Nacional para Los Angeles, Washington, Memphis, Chicago etc., é considerado sinal de autoritarismo e militarização de questões de segurança pública, criando um esquema gradativo de controle militar do país.
A alguns dias da Assembleia da ONU, Donald Trump exagera em sua demonstração de poder, ao não ter concedido vistos de entrada nos EUA para membros de muitas delegações nacionais, inclusive a do Brasil, sabendo-se que será o presidente Lula o primeiro orador, abrindo a Assembleia.
Trump também vai restringir o visto permanente dos jornalistas, que era de cinco anos, para 240 dias.
Eduardo Bueno alvo da extrema direita
A nossa extrema direita, a pretexto do Peninha Bueno ter feito gozação irreverente com o assassinato do extremista de direita norte-americano Charlie Kirk, procurou prejudicá-lo pelas redes sociais.
É verdade que o Peninha exagerou nas tintas. Mas, no seu canal Buenas Ideias, ele utiliza um humor agressivo e satírico. Na verdade, Peninha usou da mesma liberdade de expressão defendida por unhas e dentes pela extrema direita brasileira e era utilizada pelo próprio Charlie Kirk. E não se pode esquecer que ele próprio reconheceu e pediu desculpas por ter carregado nas tintas.
Ora, esse episódio revela uma enorme hipocrisia dos canais e redes sociais da extrema direita brasileira e dos que colocam comentários exaltados nas redes sociais. Se esquecem que essa extrema direita sempre exaltou o ódio, o assassinato e a tortura, na pessoa do coronel Carlos Brilhante Ustra, como fazia o ex-presidente Bolsonaro, que pedia “o assassinato de umas 30 mil pessoas para melhorar o Brasil”. De deputados e senadores que pediam a morte de Lula. E dos que comemoraram o assassinato de Mariele Franco.
Não se pode esquecer que Charlie Kirk era racista, homofóbico, negacionista quanto às vacinas e um defensor e propagandista do uso de armas pelos norte-americanos. Ele dizia: “Acho que vale a pena aceitar, alguns assassinatos por ano, (como o dele?) a fim de que a população possa se beneficiar do direito de ter uma arma, que protege nossos direitos”. Morrem cerca de 50 mil pessoas por armas, todos os anos, nos EUA.
De acordo com a imprensa estadunidense, Charlie Kirk era um dos 12 apóstolos de Trump junto à juventude norte-americana. Uma de suas declarações mais absurdas era a de que suas filhas teriam o filho no caso de serem estupradas e ficarem grávidas.
Algumas referências:
https://www.24heures.ch/jimmy-kimmel-son-emission-suspendue-apres-ses-propos-sur-kirk-804445778540
Eduardo Bueno Peninha – https://www.youtube.com/watch?v=JTOzMjRQ4aA
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Rui Martins é jornalista, escritor, ex-CBN e ex-Estadão, exilado durante a ditadura. Criador do primeiro movimento internacional dos emigrantes, Brasileirinhos Apátridas, que levou à recuperação da nacionalidade brasileira nata dos filhos dos emigrantes com a Emenda Constitucional 54/07. Escreveu “Dinheiro Sujo da Corrupção”, sobre as contas suíças de Maluf, e o primeiro livro sobre Roberto Carlos, “A Rebelião Romântica da Jovem Guarda”, em 1966. Vive na Suíça, correspondente do Expresso de Lisboa, Correio do Brasil e RFI.
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