Brasil sai fortalecido.
Agência Sputnik - 14/09/2025 10:18:48 | Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
O tarifaço fez com que o governo do Brasil tomasse uma série de medidas para garantir a comercialização de produtores rurais afetados pelas altas tarifas estadunidenses.
Desde à agricultura familiar a grandes exportadores para os Estados Unidos, os esforços vêm buscando minimizar as perdas atuais e futuras, oriundas da taxação de 50% de vários produtos brasileiros, desde 6 de agosto.
Um dos principais órgãos na linha de frente dessa empreitada, com a missão de garantir a soberania alimentar do país e apoiar os diferentes produtores agrícolas é Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente da companhia, Edegar Pretto, explicou que desde o início, vem assessorando o governo em mesas de negociação, com dados da produção nacional e do mercado agrícola.
"É a Conab que provém todos os dados da produção agrícola, que faz também a leitura do mercado agrícola nacional e internacional, da onde a gente compra, para onde a gente vende, o volume de exportação. Esse compilado de dados agropecuários sobre a produção agrícola e o mercado nacional e internacional é a Conab que provém", explicou ele.
Pouco mais de um mês depois do início da vigência das novas tarifas, o balanço de Pretto é que pese a gravidade das sanções impostas pelos EUA, o país tem conseguido "tirar aprendizagem" da crise e fortalecer novas relações com o mercado internacional.
"O Brasil conseguiu abrir novas avenidas comerciais. Eu ouso dizer que o Brasil sai mais fortalecido nas relações comerciais com países do mundo que estavam antes dessa imposição do governo dos Estados Unidos", opinou.
Segundo Edegar, ao contrário do que muitos pensavam que aconteceria, o mundo não correu para apoiar os Estados Unidos. "Aconteceu justamente o inverso", descreve.
"O mundo se voltou para o Brasil e quer estabelecer ou novas relações comerciais, ou aprimorar, aperfeiçoar, potencializar as relações que já se têm."
Missão no México: solidariedade em alta
Como exemplo do fortalecimento das relações está a missão brasileira ao México há duas semanas, chefiada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. País com forte relação comercial com os EUA, os mexicanos também enfrentam os impactos das tarifas norte-americanas.
"Eles se voltam neste momento para a América Latina, especialmente para o Brasil. Na missão que fizemos, o que eles pediram? Ajuda do Brasil para garantir, a soberania alimentar do México", comentou.
"E, segundo, é ajudar a garantir a soberania energética, vir de toda a expertise de mais de 50 anos que o Brasil tem na produção, especialmente de etanol".
Ele destacou que o Brasil e o México juntos são responsáveis por 70% de toda a exportação da América Latina. Juntas, as duas nações, têm 350 milhões de habitantes. Uma série de acordos incrementou as parcerias comerciais entre os dois países.
Pretto contou que mais de 100 empresários brasileiros participaram da comitiva e, no total, mais de 350 empresários de ambos os países estiveram sentado à mesa de negociações para incrementar trocas comerciais.
No entanto, o México é apenas um dos exemplos. "Depois do tarifaço, nós já abrimos inúmeros novos mercados agrícolas", declara. "Hoje são mais de 420 mercados agrícolas que o Brasil tem."
Retomada do Programa de Aquisição de Alimentos
Um dos motores para tirar o Brasil do Mapa da Fome, da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2014, o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) foi retomado em 2023, após ter sido abandonado no ano anterior. Agora, o programa é mecanismo depoio emergencial às organizações da agricultura familiar exportadoras atingidas pelas tarifas impostas ao Brasil pelos EUA.
A medida, executada pela Conab, consiste na compra de alimentos da agricultura familiar por meio de chamadas públicas, sem necessidade de licitação, e garante condições para que os agricultores familiares guardem seus produtos em estoque e não precisem vender imediatamente a preços baixos.
"Nós estamos disponibilizando também a questão de toda a expertise da Conab para fazer compras públicas [..] de uma forma muito rápida, desburocratizada e muito segura economicamente. [...] Internamente, nenhum dos setores, e são palavras também do nosso presidente, vai ficar desamparado neste momento"."
Em 2023, o governo brasileiro decidiu retomar a política de formação de estoques públicos, após 6 anos de sua interrupção.
Com as tarifas mais altas para alguns produtos, sobretudo do arroz e do milho, a estratégia mostrou-se ainda mais relevante para a regulação do abastecimento interno, durante variações de preços, e ao apoio aos produtores rurais quando o preço de mercado fica inferior ao preço mínimo estabelecido para a safra vigente.
Se EUA não querem, têm quem queira
O Brasil vem tentando negociar com a Casa Branca a revisão das tarifas norte-americanas, mas até o momento não obteve avanços significativos uma vez que o mandatário norte-americano justifica a taxação como defesa do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado.
Na opinião do presidente da Conab, as sanções também serviram para mostrar novos horizontes para além norte-americano. "Estamos fazendo o nosso dever de casa em função dessa grande imposição econômica contra o povo brasileiro."
"Se os Estados Unidos não querem comprar, não querem consumir tudo de bom que a gente produz, que é um dos melhores produtos agrícolas do mundo, um dos menores preços dos produtos agrícolas do mundo é do nosso país, tem outros países que querem."
Sobre a Conab
Sua missão é contribuir para o abastecimento, a segurança alimentar e nutricional, a produção, a geração de renda e informações agropecuárias, através da gestão de políticas agrícolas, fornecimento de informações agropecuárias, execução do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)
O órgão fornece informações detalhadas e atualizadas sobre a produção agropecuária nacional, por meio de levantamentos de previsão de safras, de custos de produção e armazenagem, de posicionamento dos estoques e de indicadores de mercado, além de estudos técnicos que viabilizam a análise do quadro de oferta e demanda, dentre outros dados.
A entidade também participa da execução de programas e ações governamentais que contribuam para o bem-estar de comunidades que estejam em situação de insegurança alimentar e nutricional.
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