A vida é como uma gangorra.
Por João Zisman - 14/09/2025 07:57:58 | Foto: João Zisman - Texto e Imagem
O tempo passa e, com ele, aprendemos um truque curioso: o da seletividade. Já não é qualquer situação que nos arranca energia, nem toda companhia que merece cadeira cativa, nem todo debate que justifica levantar a voz. Continuamos com disposição, sim, mas agora ela precisa passar pelo filtro da experiência, quase como se pedisse autorização antes de entrar em cena.
A vida é como uma gangorra. Em certos momentos, a disposição toma impulso e sobe, cheia de vontade de experimentar. Em outros, é a experiência que pesa mais e baixa o centro de gravidade, lembrando que é preciso calma e critério. O importante não é quem está em cima ou embaixo, mas o movimento que mantém os dois lados em jogo.
Olhar para frente é a condição básica da vida. É lá que moram os sonhos, os projetos e as possibilidades que ainda não se materializaram. Mas, de vez em quando, vale espiar para trás. Não para se prender ao que foi, nem para transformar o passado em manual de conduta definitiva. O retrovisor serve para consulta, como quem confere rapidamente o mapa de uma estrada já percorrida antes de decidir o próximo passo.
O que o tempo ensina, no fundo, é que a vida não precisa ser vivida em excesso. Não é necessário abraçar todas as causas, aceitar todos os convites ou responder a todas as provocações. Há uma liberdade enorme em poder escolher, e essa liberdade só chega quando entendemos que qualidade importa mais do que quantidade.
E assim seguimos, equilibrando-nos nessa gangorra invisível, sem deixar que um lado anule o outro. A disposição continua sendo o motor que nos impulsiona, e a experiência é o contrapeso que garante equilíbrio. O melhor é descobrir que esse sobe e desce não incomoda. É justamente o que dá graça ao trajeto.
Envelhecer, afinal, não é perder nada. É ganhar o direito de selecionar com mais cuidado o que vale a pena viver e rir com leveza de tudo aquilo que, um dia, achamos urgente mas que hoje sabemos que não fazia tanta diferença assim.
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