A sua história é celebração às raízes do Nordeste e, também, lembrete para a importância da música nordestina no cenário nacional.
Por Maria José Rocha Lima[1] - 10/05/2023 18:10:24 | Foto: Imagem: Reprodução - Maria José Rocha Lima[1]
Wilson Oliveira Aragão (25 de abril de 1950) é um cantor e compositor brasileiro. Completou, no último dia 25, 73 anos de idade. Com quase 40 anos de carreira, cinco discos lançados e músicas gravadas por grandes artistas nacionais e internacionais, é autor de pérolas do cancioneiro nacional como “Capim-Guiné”, “Mosaicos”, “Guerra de Facão” e “Sertões e Sertões”. A sua história é celebração às raízes do Nordeste e, também, lembrete para a importância da música nordestina no cenário nacional.
Nascido na cidade de Piritiba/BA, no Piemonte da Chapada Diamantina, começou cantando na adolescência em corais de igreja e de colégio. Já nesse tempo, se achava diferente por gostar de músicas, estilos e ambientes proibidos por sua família, que era evangélica, e por já sentir a veia artística se manifestando por meio de poesias, pinturas e músicas. Com a separação dos pais, foi para São Paulo, trabalhar e fazer faculdade, mas continuou compondo e escondendo as músicas. A arte ficou escondida nos seus cadernos até criar coragem de mostrar aos amigos mais próximos, que o encorajaram a mostrar as composições aos artistas da época. Com a gravação de Raul Seixas, Capim Guiné foi sucesso em todo o Brasil.
Além de Capim Guiné, gravada também por Tânia Alves, ele é autor de “Guerra de Facão”, gravada por Zé Ramalho, Falcão, Antonio Rocha e outros artistas brasileiros.
A sua música fala, principalmente, do homem do campo, suas lutas e anseios, seus amores e dissabores. Seus ritmos passeiam por baladas, xotes, martelos, galopes e canções. Tem como Pátria o sertão baiano, inspiração do seu cancioneiro, sempre voltado para a dignidade, humildade e sapiência do sertanejo, como na música O Sertão chora, com letra do poeta e jornalista Miguel Lucena. Aragão já faz parte do grande São João e cantorias pelo sertão brasileiro, tornando-se parte da vida poética do Nordeste.
Este poeta-cantador faz as suas andanças, sempre irreverente, levando consigo vários “causos” que, sempre bem contados, despertam no povo o sentido alegre da vida após um dia de batalha e é respeitado por todos os cantadores pela grande luta por uma música de qualidade. Wilson Aragão é casado com Mirian e tem três filhos: Pedro, Wilson Filho e Rui.
Wilson começou sua carreira em 1982, tem cinco CDs gravados e participação em várias coletâneas.
O violeiro talentoso e amoroso não perde a esperança no povo brasileiro e no Brasil. O poeta elege, como motivo da sua poética, tudo o que a sociedade do consumo, secularizada, marcada pelo vazio existencial, considera inútil e descartável. O poeta dos sertões é um Peregrino do Sertão da Bahia, buscando nesses lugares aqueles que são os verdadeiros ilustres e os torna ilustres. As suas andanças se dão, privilegiadamente, entre os protagonistas das suas obras: os sertanejos pobres, coisa que responde à ideia de busca de elevação humana.
A obra de Wilson Aragão me lembra uma alegoria contada como se fosse um sonho, voltando-se sempre para dar voz, nas suas narrativas poéticas, aos que ficaram à margem.
[1] Maria José Rocha Lima é mestre em educação pela UFBA e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É da Organization Soroptimist International. Sócia Benemérita da Hora da Criança.
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