Produtores de macadâmia têm contratos de exportação para os EUA cancelados

Tarifas de Trump não afetam o cinema e as artes, mas preocupam os setores

 Produtores de macadâmia têm contratos de exportação para os EUA cancelados
 Produtores de macadâmia têm contratos de exportação para os EUA cancelados

Jaqueline Pereira, Bauru, Sp (folhapress) - 05/08/2025 07:03:28 | Foto: Reprodução Jornal do Agro

A taxação de 50% às exportações brasileiras definida pelo presidente dos Estados Unidos, Donaldo Trump, fez com que produtores e processadores de macadâmias tivessem seus contratos de compra cancelados.

Somente Dois Córregos, no interior paulista, é responsável pela exportação de metade de tudo que é produzido no Brasil. No município conhecido como a "capital nacional da macadâmia", a QueenNut Macadâmia, uma das maiores produtoras e processadoras da noz do país, viu um contrato ser cancelado após o comprador norte-americano se recusar a pagar mais pelo recebimento do produto.

Um contrato de 15 toneladas de macadâmias cruas, que seriam enviadas a um único cliente dos Estados Unidos, foi desfeito. A negociação encerrada estava avaliada em US$ 225 mil (R$ 1,26 milhão).

"Trabalhamos com dois tipos de acordo, um deles nós somos responsáveis por entregar a mercadoria no estoque do cliente 'CIF' e todas as taxas são por nossa conta. Quando o contrato foi fechado, em 2024, a taxa era de 10%, porém, a produção estará pronta só no final de agosto. Esse comprador já sinalizou que quer receber o produto, ou seja, vamos ter que arcar com o novo valor da taxa. Já no outro formato de contrato, nós fazemos a entrega 'FOB Porto' e as taxas de internacionalização são de responsabilidade do cliente. Foi um desses contratos que tivemos o pedido de cancelamento, pois a empresa sinalizou que não pagará esse custo adicional", disse Pedro Toledo Piza, diretor da empresa.

Ele, que também é diretor da ABM (Associação Brasileira de Noz Macadâmia), afirmou que, além dos cancelamentos, há pedidos de suspensão temporária de contratos.

"Outras 200 toneladas de macadâmia brasileira, que seriam exportadas para os Estados Unidos, estão com os acordos suspensos. Essas negociações podem ser canceladas a qualquer momento ou renegociadas com valores mais baixos."
Ao todo, essas 215 toneladas com envios interrompidos, que seguiriam para clientes norte-americanos, representam um total de US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 20 milhões).

A safra brasileira da noz macadâmia se encerra em setembro, prazo final para que toda a produção seja escoada e direcionada aos mercados consumidores.

Na tentativa de minimizar os impactos, a empresa de Dois Córregos tem adotado estratégias de mercado e feito manobras para realocar os produtos, segundo o diretor.

"O prejuízo só não vai ser maior porque 60% do que produzimos já foi comercializado e, devido à seca, tivemos uma safra com produção abaixo do esperado, sendo assim, exportaríamos, neste ano, somente 30 toneladas para os Estados Unidos. O que vamos tentar fazer é acomodar a produção atual no mercado interno, já que o consumo da noz macadâmia no Brasil está em ascensão", disse.

Porém, Piza afirmou que, com essa taxação de 50%, a indústria de macadâmia brasileira precisará buscar novos parceiros comerciais. "Os nossos produtos se tornam menos competitivos no mercado norte-americano e teremos que arcar com os prejuízos dessa taxa até conseguirmos direcionar a produção para outras regiões consumidoras."
Em Dois Córregos, são 400 hectares de pomares com 100 mil árvores plantadas, e uma produção anual estimada em 1.500 toneladas. Do total, 30% é direcionado ao mercado interno e o restante é enviado ao exterior, sendo 50% para os Estados Unidos, 40% para a China e 10% para países de Europa e América Latina.

Quase 20% das exportações para os EUA estão sujeitas a tarifas específicas

MAELI PRADO, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um estudo do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços) aponta que 19,5% das exportações brasileiras para os Estados Unidos estão sujeitas a tarifas específicas, e portanto fora da sobretaxa de 50% a produtos do Brasil.

Esses produtos estão sujeitos à legislação Seção 232, que permite impor tarifas por razões de segurança nacional. Sobre esses produtos, não se aplica a sobretaxa anunciada nesta quarta-feira (30).

De acordo com os dados, a Seção 232 contempla principalmente segmentos de ferro e aço, com US$ 3,9 bilhões das exportações em 2024, e madeira e carvão vegetal e obras de madeira, com US$ 1,5 bilhão.

No caso da madeira, o setor ainda está sob investigação, mas até o resultado sair, o produto estará sujeito à alíquota anterior, como aponta a Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina).

"Os produtos de madeira e derivados, como móveis, que lideram as exportações catarinenses para os EUA, estão sob investigação pela seção 232. Até o fim da investigação, essas mercadorias seguem sendo tarifadas com alíquotas anteriores ao anúncio do tarifaço",
Outros exemplos de produtos incluídos na Seção 232 são reatores nucleares e caldeiras (US$ 776,9 milhões em exportações em 2024), veículos automotores (US$ 320,1 milhões) e borracha (US$ 290,3 milhões).

O levantamento mostrou ainda que 44,6% das exportações brasileiras para os EUA, o equivalente a US$ 18 bilhões vendidos ao país presidido por Donald Trump em 2024, serão excluídas da sobretaxa.

O estudo lembra que os produtos em trânsito não serão afetados pelas tarifas adicionais. "A decisão de 30/7 exclui da majoração tarifária mercadorias que tenham sido embarcadas, no Brasil, até 7 dias após a data da ordem executiva, observadas as condições previstas."

Tarifas de Trump não afetam o cinema e as artes, mas preocupam os setores

ALESSANDRA MONTERASTELLI. SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O setor cultural ficou de fora do tarifaço para a importação de produtos brasileiros importo por Donald Trump, que entram em vigor nesta quinta-feira (7). Apesar do alivio, ainda é cedo para produtoras de cinema e galerias de arte respirarem despreocupadas.

Isso porque o clima de tensão instaurado pelo presidente americano com o Brasil deve afetar futuras negociações nas áreas da arte e do audiovisual, nas quais a parceria com empresas americanas é cotidiana e vital.

Segundo a Pesquisa Setorial do Mercado da Arte do ano passado, os Estados Unidos foram o destino de 56% do total de exportações de galerias brasileiras em 2023. A tendência vem crescendo nos últimos anos –em 2016, esse percentual era de 48%.

A insegurança econômica despertada pela guerra comercial freia possíveis compradores de arte, diz Thiago Gomide, dono da galeria paulistana Gomide & Co e membro da Associação de Galerias de Arte do Brasil. Os colecionadores, pessoas abastadas e gestoras de outros negócios, possivelmente em áreas afetadas pelo tarifaço, preferem se dedicar a investimentos mais seguros em momentos de crise, ele afirma.

"Doadores ficam mais tímidos também de dar dinheiro aos museus, por medo de represálias", afirma Gomide. Ele diz que há uma preocupação geral do setor com os cortes de verba do governo Trump para museus americanos, clientes das galerias brasileiras que agora devem diminuir suas aquisições.

Embora a exportação de filmes brasileiros seja ainda muito baixa, profissionais da indústria cinematográfica americana afirmaram à reportagem, em condição de anonimato, que há receio em relação à resposta de Lula, devido a uma clausula na Lei da Reciprocidade que prevê a quebra de direitos autorais de produtos importados pelo Brasil -como todo produto temático vindo de alguma franquia dos cinemas ou do streaming.

Embora a chance de Lula recorrer a esta medida seja vista como remota, existe a preocupação que a erosão da relação entre os dois países possa fazer com que Lula acelere a regulamentação do streaming no Brasil. É o que afirma Mauro Garcia, presidente da Brasil Audiovisual Independente, associação que reúne 600 produtoras nacionais.

"O Brasil não é um exportador de audiovisual, mas ocupamos bem o mercado interno na última safra, nesse declínio do cinema americano", diz ele. A regulamentação obrigaria empresas dos Estados Unidos, como Netflix e Amazon Prime Video, a dar contribuições maiores para o desenvolvimento do audiovisual brasileiro.

O republicano, por sua vez, pode tentar interferir na regulamentação do streaming, na visão de Garcia. "Ele pode, por exemplo, aplicar mais tarifas como represália, para defender as big techs americanas", ele afirma.

Comentários para " Produtores de macadâmia têm contratos de exportação para os EUA cancelados":

Deixe aqui seu comentário

Preencha os campos abaixo:
obrigatório
obrigatório