Esses grupos já foram investigados pela polícia brasileira. Integrantes de um deles foram alvos de uma operação deflagrada em abril no Rio de Janeiro
Berlim, Alemanha (folhapress) - Isabella Menon - 23/06/2025 07:43:50 | Foto: Freepik
A polícia de Hamburgo, cidade no norte da Alemanha, anunciou nesta terça-feira (17) a prisão de um homem de 20 anos acusado de ter cometido mais de 120 crimes entre os 16 e 19 anos. O jovem foi apontado como um dos principais líderes da comunidade de ódio chamada 764, que reúne integrantes de diversos países, como Estados Unidos, Canadá e Alemanha.
O grupo exerce influência sobre pelo menos dois outros grupos de ódio online no Brasil incluindo nomes compostos por três números, a estética e os crimes, de acordo com a delegada Lisandrea Colabuono, responsável pelo Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital), em São Paulo.
Esses grupos já foram investigados pela polícia brasileira. Integrantes de um deles foram alvos de uma operação deflagrada em abril no Rio de Janeiro. O grupo estaria planejando ataques a pessoas em situação de rua e usaria a internet para induzir crianças e adolescentes a propagar crimes de ódio, fazer apologia do nazismo, divulgar fotos de exploração sexual infantil e maus-tratos de animais.
Segundo a investigação alemã, o grupo 764 atuaria como organização terrorista de extrema direita e teria orientação satanista, de acordo com a imprensa local.
A comunidade surgiu em 2021, no Texas (EUA), por meio do Telegram, e organiza ataques de forma semelhante a episódios registrados no Brasil. De acordo com a polícia alemã, o jovem de 20 anos preso seduzia emocionalmente vítimas em redes sociais para explorar esse vínculo de forma criminosa, incluindo a produção de imagens de exploração sexual infantil.
A polícia afirma que ele teria influenciado o suicídio de um adolescente de 13 anos nos Estados Unidos. Uma outra adolescentes de 13 anos do Canadá também teria tentado se suicidar. Foram identificadas oito vítimas com idades entre 11 e 15 anos além da Alemanha e do Canadá, também da Inglaterra e dos EUA.
Ainda segundo a polícia alemã, as vítimas atendiam às ordens dele durante transmissões ao vivo em plataformas online e se feriram gravemente. Assim como ocorre no Brasil, as cenas de tortura eram gravadas e usadas para chantageá-las caso se recusassem a continuar se submetendo às sessões de tortura.
O pesquisador Marc-André Argentino, da Universidade de Concórdia (Canadá), especialista em extremismo, radicalização, tecnologia e ameaças à democracia, estuda o grupo e relata que o 764 exige provas de crimes de pedofilia ou extorsão para permitir a entrada de novos membros em chats privados.
As autoridades de Hamburgo afirmam não ter identificado até o momento a participação de brasileiros, mas pesquisadores apontam sinais da presença de integrantes do país no grupo.
Reportagem da Folha de S.Paulo publicada em março mostrou que a polícia de São Paulo criou, no ano passado, o Noad para monitorar essas comunidades. Agentes infiltrados acompanham a atividade em aplicativos como Discord, Telegram e Roblox. À época, as plataformas afirmaram manter medidas para coibir esse tipo de crime.
Para o pesquisador Leandro Louro, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), os grupos brasileiros reproduzem quase todos os elementos dos internacionais. "Os traços são muito parecidos: máscaras de caveira, roupas pretas de adolescentes, logotipos similares. Às vezes, essa influência é tão naturalizada que os integrantes nem percebem", afirma.
Letícia Oliveira, que há 15 anos monitora grupos extremistas, aponta que, enquanto as chamadas panelas surgiram no Brasil em 2020, no Discord, nos EUA elas começaram a se formar no ano seguinte. Apesar de diferenças culturais, Letícia diz que, no último ano, os grupos brasileiros passaram a usar códigos numéricos para se identificar, assim como o 764.
Ela pondera que ainda não é possível dimensionar o nível dessa influência, já que o fenômeno surgiu antes no Brasil.
Após a divulgação do caso, o Departamento Federal de Polícia Criminal da Alemanha, o BKA, publicou uma nota em que faz um alerta sobre esse tipo de crime.
O órgão afirma que, cada vez mais, crianças e adolescentes se tornam alvo de grupos online, que conquistam a confiança de forma intencional para envolvê-los em ciclo perigoso de ameaças, chantagens e automutilação.
"Isso pode chegar a suicídio ou práticas de crimes, como agressões físicas ou maus-tratos a animais. Na maioria das vezes, essas opções são gravadas ou transmitidas ao vivo", afirma o departamento.
O BKA também lista uma série de atitudes de jovens que podem indicar uma radicalização, como mudanças de humor, exclusão social, presentes inexplicáveis e muitas vezes caros, ferimentos ou símbolos riscados na pele e interesse excessivo por conteúdos extremos ou fantasias de violências.
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