O pêndulo foi ao centro, não encontrou respostas
Por João Zisman - 07/11/2025 17:34:50 | Foto: Editoria de Artes/IA
Falta menos de um ano para a eleição presidencial. A polarização ainda existe, mas perdeu o monopólio da narrativa. A disputa de 2026 não é apenas entre candidatos, é entre modelos de país. Depois de experimentar extremos ideológicos, o eleitor brasileiro dá sinais de retorno ao centro. Esse movimento pendular explica por que a eleição pode ser menos sobre confronto e mais sobre equilíbrio e pragmatismo.
O pêndulo foi ao centro, não encontrou respostas. Foi totalmente para a direita em 2018. Migrou para a esquerda em 2022. Agora busca estabilidade, previsibilidade e resultados.
Lula chega à eleição com uma vantagem que não existia no início do mandato. Além da estrutura presidencial, ele reconquistou o controle da narrativa política após a tentativa da família Bolsonaro de internacionalizar o conflito institucional brasileiro. O grupo estimulou Donald Trump a criticar o Supremo Tribunal Federal e a insinuar retaliações econômicas ao Brasil, como tarifaço e revisão das relações comerciais, numa tentativa de transformar Trump em árbitro moral da política nacional.
A iniciativa teve efeito contrário. Soou como ingerência externa e gerou reação institucional. Trump recuou. Aproximou-se de Lula. Houve encontro. A conversa estabeleceu um padrão de normalidade diplomática e restabeleceu a relação histórica entre Brasil e Estados Unidos. Com isso, Trump afastou-se politicamente de Bolsonaro, e Lula deixou o canto do ringue para voltar ao centro do tabuleiro. Recuperou protagonismo e passou a ser visto como ponto de estabilidade na disputa.
Sem Bolsonaro na urna, a direita perdeu seu unificador. Há base social e energia política, mas não há síntese. Parte do campo conservador defende a manutenção do bolsonarismo como identidade. Outra parte deseja uma candidatura competitiva, capaz de dialogar com setores moderados. A dificuldade está em conciliar emoção e estratégia. Sem um nome com densidade nacional e capacidade de articulação estadual, a direita corre risco de fragmentação.
Tarcísio e o dilema estratégico – Tarcísio de Freitas é o nome mais forte dentro desse campo. Tem aprovação sólida em São Paulo, controla o maior orçamento estadual do país e possui discurso de gestão, não de radicalização. No entanto, enfrenta uma decisão complexa. Se disputar a reeleição em São Paulo, tem alta probabilidade de vitória e pode consolidar liderança nacional. Se enfrentar Lula em 2026, enfrentará uma candidatura forte, com base instalada em todo o país e a máquina pública operando a favor da continuidade. Arriscar 2026 pode comprometer 2030. A leitura predominante é que Tarcísio tende a disputar a reeleição e manter sua rota para a sucessão presidencial daqui a quatro anos.
Com menos de um ano para o pleito, o jogo decisivo acontece nos estados. É nas composições estaduais que se define quem terá palanque, tempo de televisão, logística e capilaridade. Governadores não apenas apoiam, eles viabilizam. Sem eles, uma candidatura morre antes de chegar às ruas. A disputa por alianças estaduais, principalmente em São Paulo, Minas e Rio, será o termômetro da competitividade real de cada presidenciável.
Ratinho ocupa espaço do centro – Nesse cenário, Ratinho Junior surge como uma alternativa de síntese. Governador do Paraná, construiu imagem de gestor eficiente, com foco em infraestrutura e atração de investimentos. Dialoga com agronegócio, empresários e prefeitos. Mais do que isso, tem um diferencial incomum: capilaridade popular. Ratinho, o apresentador de TV, fala diariamente com milhões de brasileiros e é um dos comunicadores mais influentes do país. Não é apenas um apoiador famoso. É um canal permanente de comunicação com o eleitor comum.
Enquanto outros pré-candidatos precisam investir para serem conhecidos, Ratinho Junior já nasce com visibilidade nacional. Para que ele entre na disputa, três condições precisam estar presentes: consolidação do movimento pendular de retorno ao centro, palanques competitivos em estados estratégicos e narrativa focada em gestão, não em guerra ideológica. Se essas variáveis se confirmarem, ele deixa de ser hipótese e se torna alternativa concreta.
Eleitor muda e política precisa acompanhar – Pesquisas qualitativas indicam um sentimento claro. O eleitor está cansado. Cansado da radicalização, da retórica do inimigo interno e da sensação de instabilidade permanente. O voto ideológico perdeu exclusividade. A população quer previsibilidade, emprego, crédito, segurança pública eficiente e governo que funcione. A radicalização não paga boleto.
O movimento pendular resume o ciclo recente. O eleitor confiou ao centro, não viu resultado. Apostou no extremo da direita. Depois confiou à esquerda a tarefa de governar. Agora volta a procurar equilíbrio.
A disputa de 2026 não definirá apenas quem governará o Brasil. Definirá como o país quer ser governado. Lula chega forte. Tarcísio protege seu futuro político mirando 2030. A direita se reorganiza. Ratinho Junior observa o espaço do centro se abrir. Se o pêndulo completar o ciclo, o país pode premiar uma liderança de estabilidade e síntese, em vez de conflito.
Quando o eleitor abandona a guerra, quem oferece equilíbrio vira solução.
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