Artigo de João Zisman: Para aparecer, vale tudo…., até ser ‘jornalista’

É curioso observar como o brasileiro se adapta

Artigo de João Zisman: Para aparecer, vale tudo…., até ser ‘jornalista’
Artigo de João Zisman: Para aparecer, vale tudo…., até ser ‘jornalista’

Por João Zisman - 19/10/2025 11:13:54 | Foto: Autor/Imagem: João Zisman - Texto e Imagem

Antes todos eram especialistas em futebol. Sabiam de cor o esquema tático, a escalação ideal e o nome do lateral que resolveria o jogo se o técnico tivesse um mínimo de bom senso.

Hoje o país evoluiu. Os gramados deram lugar ao plenário e surgiram os doutores de WhatsApp, especialistas em direito constitucional, em Supremo Tribunal Federal, em Estado Democrático de Direito e, pior ainda, em jornalismo.

É curioso observar como o brasileiro se adapta.

Bastou o noticiário esquentar e os mesmos que escalavam a seleção passaram a julgar decisões judiciais, comentar habeas corpus e interpretar votos como quem analisa impedimento em final de Copa.

A Constituição virou a nova tabela do Brasileirão. Todo mundo tem uma cópia, ninguém leu inteira, mas todos garantem saber o que significa.

E quanto ao jornalismo, esse então virou território livre.

Há especialista em comunicação que nunca escreveu um parágrafo inteiro sem tropeçar na vírgula, mas se julga capaz de definir o que é notícia, o que é censura e o que é liberdade de imprensa.

Outros confundem manchete com sentença e acreditam que curtir, compartilhar ou xingar já é uma forma legítima de apuração dos fatos.

A imprensa, que deveria formar opinião, virou campo de batalha entre quem acusa de vendida e quem se apresenta como independente só porque tem canal próprio.

Enquanto isso, jornalistas de verdade continuam ali, tentando fazer o que sempre fizeram: ouvir, checar, escrever e, sobretudo, duvidar.

Vivemos o tempo do achismo erudito, em que o senso comum veste terno, fala em latim jurídico e dá entrevistas imaginárias para plateias invisíveis.

É a era em que se lê a manchete e se comenta o título como se fosse tese de doutorado.

A retórica substituiu o conhecimento, e a segurança com que se afirma uma bobagem passou a valer mais do que a dúvida que antecede o pensamento.

O Brasil sempre foi um país de paixões.

Mas agora a paixão vem com glossário técnico, parágrafo constitucional e citação de jornalista famoso.

Entre um voto do Supremo e um gol anulado, a torcida se multiplica e cada um jura ter a verdade nos dedos.

No fim das contas, talvez o único especialista de verdade seja o silêncio. Ele não comenta, não grita, não posta.

Mas entende tudo.

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