Política pública traz garantias ao produtor e ao consumidor que não faltará o produto nem o preço explodirá. Edegar Pretto, da Conab, diz ainda em entrevista: o Brasil terá a maior safra agrícola de sua história neste ano
Agência Gov | Via A Voz Do Brasil - 23/08/2025 08:55:40 | Foto: Agência Gov Br
Um ato em Pelotas (RS) marcou hoje (22/8) a retomada da formação de estoques públicos de arroz, depois de 11 anos. O Rio Grande do Sul é responsável por cerca de 70% da produção nacional do cereal. Na ocasião, o produtor entregou à Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), 540 toneladas do grão. O volume será armazenado na rede credenciada pela companhia e reforçará os estoques públicos.
Para falar sobre o assunto, A Voz do Brasil conversou com o presidente da Conab, Edgar Preto.
Presidente, o ato de hoje em Pelotas marcou a retomada da formação de estoques públicos de arroz. O senhor pode começar explicando para o nosso ouvinte por que esses estoques são tão importantes?
Primeiro porque é ação, uma política pública do governo federal que ajuda tanto o produtor como o consumidor. Quando a gente compra os produtos para formar estoques públicos é porque o mercado está pagando um preço muito baixo para os produtores.
Então a gente compra, paga um preço melhor, garante a renda, garante o lucro para quem bota na mesa o que é essencial para a nossa vida, que é o alimento. E, por outro lado, em a Conab tendo produto no seu estoque, a gente tem também uma segurança, uma garantia para quem consome.
No momento que subir o preço demasiadamente em alguma região do Brasil, daquele produto que nós temos no estoque, a gente pode utilizar o produto do estoque para equilibrar os preços para os consumidores. Então é uma política pública que ajuda quem produz, e dá segurança para quem consome ter nas prateleiras dos supermercados um preço justo.
Agora, presidente, quanto foi entregue hoje e de quanto será o estoque total?
Mariana, o nosso setor de informações agropecuárias que a Conab tem, que é muito potente, já no ano detectou que teríamos uma grande safra de arroz no Brasil, porque aumentou a área, já tínhamos a previsão de um bom clima, correu tudo muito bem.
E tínhamos também a informação que outros países, especialmente do Mercosul, teriam uma produção maior. Mais produto no mercado, por consequência, a possibilidade de ter um preço mais baixo para os produtores. Então, o ano passado, nós lançamos os contratos de opção de venda.
O governo disponibilizou R$ 1 bilhão, e das 500 mil toneladas, que era a nossa meta, conseguimos contratar 91 toneladas, porque naquele momento parecia para os produtores não muito atrativo o preço. Nós colocamos 20% acima do preço mínimo, contratamos 91 mil toneladas das 500 mil que nós pretendíamos. Veja só, naquele momento o preço ficou R$ 87,62 para ser executado neste ano.
Na hora de vender, se o preço do mercado estivesse acima desse contrato, o produtor poderia vender para o mercado, mas se estivesse abaixo, a Conab compraria. Então, na nossa opinião, era uma excelente opção para o agricultor ter essa possibilidade.
Ao nosso ver, não foi bem compreendido naquele momento, e nós não conseguimos contratar tudo. Nós contratamos 91 mil toneladas. Agora, este ano, nós recebemos o setor do arroz na Conab, e nesse diálogo, nos pediram novamente que lançássemos os contratos de opção.
E nós mobilizamos mais R$ 181 milhões disponibilizados pelo governo federal, e hoje nós fizemos os leilões. E nós conseguimos, então, com o que foi contratado ano passado, e nós temos vendido quase 100% ofertado, que foram 109 mil toneladas que foram adquiridas pelos produtores. Então, nós temos já praticamente assegurado em torno de 200 mil toneladas que irão agora para os estoques da Conab, dando segurança para quem consome e garantindo um preço melhor do que o mercado está pagando para os produtores.
Presidente, o Brasil ficou 11 anos sem esses estoques. Quais foram os prejuízos?
Principalmente o preço do alimento, na nossa opinião, está muito ligado a uma questão estrutural de o que se produzir. Porque o agricultor, corretamente, antes de botar a semente na terra, ele faz os cálculos, o que é mais viável economicamente.
Como no governo passado foi extinto o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, não teve mais o Plano Safra da Agricultura Familiar, não teve mais juros subsidiados para produzir comida para o nosso mercado interno, muitos pequenos agricultores que trabalham de uma forma diversificada acabaram migrando para a monocultura de exportação.
A ponto de, ao longo de 13, 12 anos, diminuir muito a lavoura plantada com arroz e feijão.
No governo passado, vocês lembram, a inflação geral foi em torno de 30% e a inflação dos alimentos foi de 57%. Então, eu diria que o prejuízo é que nós produzimos menos para o nosso consumo interno e, consequentemente, tivemos também, nesses últimos anos, especialmente nos quatro do governo passado, um preço muito alto da comida para quem consome.
Diferente deste ano, que nós incentivamos com juros subsidiados, vamos colher uma grande, a maior safra agrícola da nossa história.
Olha só, a maior safra de toda a história do Brasil será este ano, mas aumentou também a lavoura e a produção de arroz, de feijão, de mandioca, de batata, hortaliças e frutas e, consequentemente, nós temos um preço menor ao longo desses últimos meses que está baixando o preço para quem consome.”
Agora, presidente, o senhor está no Rio Grande do Sul, estado que mais produz arroz no país e que também foi duramente atingido por aquelas enchentes, aquela tragédia do ano passado. A compra de arroz pelo governo foi também uma ação de socorro aos produtores gaúchos?
Veja bem, nunca um estado do nosso país teve uma atenção tão grande por parte do governo federal, porque também a tragédia ambiental aqui foi a maior de toda a história desse estado. Então, o governo federal, nós, as políticas públicas, sempre trabalhamos com um olhar muito atencioso para todos, mas olhando primeiro para aqueles que mais precisam. E o estado do Rio Grande do Sul foi drasticamente atingido.
Muitas terras também foram levadas embora com a chuva. As terras mais férteis, muitas delas foram embora e isso foi necessário um grande trabalho de recuperação. Pela força do povo gaúcho, se encaminhava também para uma grande safra agrícola.
O problema foi que nós tivemos uma quebra na produção de soja, que representa 50% do que esse estado produz, e aí nós tivemos uma safra menor do que a expectativa inicial que a Conab tinha. Então, sim, tem um olhar atencioso do governo federal para esse estado, mas, como você disse, aqui se produz 70% do arroz nacional. E o arroz, como se sabe, é um dos principais produtos que vai para a mesa dos brasileiros.
O que a gente consome no nosso mercado interno, a gente precisa ter esse olhar atencioso. Então, o que a gente quer é garantir para o agricultor que ele pode continuar produzindo arroz, que ele não vai faltar com a mão amiga do Governo Federal incentivando com políticas públicas. Que é o que nós estamos fazendo com esse contrato de opção de venda, pagando um preço melhor do que o mercado paga nesses momentos.
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