Lula manda demitir presidente do INSS, alvo de operação da PF e da CGU

Quem é Alessandro Stefanutto.

Catia Seabra, Brasília, Df (folhapress) - 23/04/2025 16:02:13 | Foto: © RAFA NEDDERMEYER/AGÊNCIA BRASIL

O presidente Lula (PT) deve demitir o presidente do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, alvo de uma operação da Polícia Federal e da CGU (Controladoria-Geral da União) para combater um esquema de descontos não autorizados em aposentadorias e pensões.

Segundo relatos de auxiliares de Lula, a orientação foi dada ao ministro Carlos Lupi (Previdência Social) pela manhã, depois que o presidente foi informado pelos chefes da PF e da CGU sobre o teor das investigações.

Lupi chegou a dizer, em entrevista coletiva sobre o caso, que não pretendia demitir Stefanutto. Lupi afirmou que Stefanutto era um servidor que se mostrava exemplar e que não deveria "ser queimado na fogueira" sem saber antes do que estava sendo acusado, o que disse desconhecer também.

A situação, no entanto, se tornou insustentável, na avaliação de integrantes do Palácio do Planalto. O governo considera a gestão do INSS delicada, uma vez que afeta diretamente milhões de beneficiários.

Ao longo do dia, auxiliares de Lula trabalharam para divulgar a visão de que a operação da PF e da CGU era um sinal de que o governo protege aposentados e pensionistas, reduzindo o possível desgaste com o caso.

Além de Stefanutto, o procurador-geral do INSS, Virgílio Antônio Ribeiro de Oliveira Filho, o diretor de benefícios e relacionamento com o cidadão, Vanderlei Barbosa, o coordenador geral de Suporte ao Atendimento ao Cliente e o coordenador geral de Pagamentos e Benefício também foram retirados de seus cargos.

A reportagem tentou entrar em contato com Stefanutto, Oliveira Filho e Barbosa por meio da assessoria de imprensa do INSS, mas não obteve resposta.

Quem é Alessandro Stefanutto, presidente do INSS afastado após investigações da PF

CRISTIANE GERCINA, SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O presidente afastado do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), Alessandro Stefanutto, que deixou o cargo por decisão da Justiça após a Polícia Federal deflagrar a Operação Sem Desconto, na manhã desta quarta-feira (23), é procurador federal do órgão há 25 anos.

Stefanutto está na presidência do INSS desde julho de 2023, quando substituiu Glauco André Fonseca Wamburg, nomeado em janeiro daquele ano.

Nascido e criado na capital paulista, é formado em direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, mas mora em Brasília há 25 anos.

Seu primeiro cargo no governo federal foi como técnico da Receita Federal, em 1993, após deixar o posto público que havia conquistado em concurso no TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo), em 1992. Entrou para a procuradoria do INSS em 2000.

Filiado ao PDT a convite do atual ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, Stefanutto foi indicado por ele para assumir o cargo, quando o então presidente da época foi desligado devido ao aumento da fila de pedidos de benefícios do INSS.

Ao assumir o INSS, a fila de pedidos estava em 1,7 milhão e chegou aos 2 milhões em dezembro do ano passado, abrindo nova crise no governo.

Stefanutto foi o responsável por iniciar a investigação sobre os descontos indevidos de mensalidades de associações nas aposentadorias e pensões do INSS e teria levado o caso à Polícia Federal.

O presidente afastado passou pela Escola Militar da Marinha, onde fez o colegial. Suas últimas formações envolvem mestrado em direito internacional pela Universidade de Lisboa, concluído em 2024, e uma especialização em mediação e arbitragem, na FGV (Fundação Getulio Vargas), em 2017, entre outros cursos.

Stefanutto iniciou sua vida política ainda na faculdade. Foi filiado ao PSB, e foi assessor de Eduardo Campos, governador de Pernambuco por dois mandatos, ministro de Ciência e Tecnologia, e candidato à Presidência da República que morreu em um acidente de avião em 2014, durante a campanha.

É autor do livro "Direitos Humanos das mulheres e o sistema interamericano de proteção aos direitos humanos", cujo prefácio foi escrito por Maria da Penha Fernandes, que deu nome à lei 11.340, a Lei Maria da Penha.

Segundo investigações da PF, o esquema, que começou em 2019, envolve um valor estimado em R$ 6,3 bilhões, entre 2019 e 2024.

A Operação Sem Desconto envolveu, na manhã desta quarta, cerca de 700 policiais federais e 80 servidores da CGU (Controladoria-Geral da União), que cumpriram hoje 211 mandados judiciais de busca e apreensão, ordens de sequestro de bens no valor de mais de R$ 1 bilhão e seis mandados de prisão temporária
As prisões ocorreram no Distrito Federal e nos estados de Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, São Paulo e Sergipe. Seis servidores públicos foram afastados de suas funções, incluindo Stefanutto, que teve o celular apreendido.

Os investigados poderão responder pelos crimes de corrupção ativa, passiva, violação de sigilo funcional, falsificação de documento, organização criminosa e lavagem de capitais.