Por João Zisman: Eleição em Brasília promete enlamear antigas reputações

O eleitor até tenta fingir que existe debate

Por João Zisman: Eleição em Brasília promete enlamear antigas reputações
Por João Zisman: Eleição em Brasília promete enlamear antigas reputações

Por João Zisman - 09/11/2025 09:17:12 | Foto: João Zisman - Artes/IA

Brasília nunca foi território para campanhas civilizadas. No Distrito Federal, eleição não é disputa de ideias. É sobrevivência. O eleitor até tenta fingir que existe debate, mas o roteiro é conhecido. Começa com palmas e encerra com denúncia, dossiê, print e vídeo fora de contexto. Nada mais democrático do que o velho hábito da desconstrução pública.

No DF, transformar adversários em inimigos virou método. A política local não disputa apenas um mandato. Disputa território, influência, verbas e, principalmente, a narrativa de quem é o salvador e quem é o vilão da vez. Aqui, ninguém quer vencer pela qualidade. Quer vencer pelo desgaste do outro.

Em 2026, o jogo será ainda mais áspero. A guerrilha digital já está ensaiando ataques com a sutileza de um rolo compressor. Cortes de vídeos, frases recortadas, prints sem contexto e uma dose generosa de indignação fabricada. No minuto em que um candidato fala, já existe um exército invisível decidido a provar que ele não quis dizer o que disse. E se não houver motivo real, cria-se um.

Programas de televisão e rádio serão o tribunal da reputação. Não se constroem propostas por ali, se destroem carreiras. Poucos segundos bastam para transformar uma dúvida em certeza, uma ilação em crime e uma mentira em verdade nova em folha. É o palco perfeito para quem prefere acusar a explicar.

Campanha moderna exige menos altruísmo e mais antídoto. Quem não estiver preparado vai descobrir que redes sociais não perdoam hesitação. A narrativa não espera. Ela atropela. Comunicação não pode ser uma soma de peças soltas. Tem de ser orquestra. O discurso do candidato, o post, o vídeo de reação, o programa de TV, o spot de rádio e o adesivo no carro precisam dizer a mesma coisa. De preferência, antes que o ataque chegue.

E tem gente que ainda acredita que eleição se ganha com simpatia e sorriso. Não. Eleição se ganha com velocidade de resposta. Quem não reage perde o protagonismo. Quem demora para reagir perde o respeito. No DF, hesitar é pedir para ser triturado.

A campanha de 2026 não vai premiar quem tem as melhores propostas. Vai premiar quem tem os melhores reflexos. Vai vencer quem entende que comunicação é estratégia, não decoração. E que verdade, nessa arena, não vale nada sem narrativa que a defenda.

O Distrito Federal já mostrou que não tem paciência para amadores. Aqui, vencer exige preparo emocional. Perder exige terapia.

Quem entrar achando que está participando de um campeonato de ideias vai descobrir cedo demais que entrou em uma fábrica de reputações destruídas.

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