Opinião de Adriana Dantas: A vida presta e a Justiça é mulher

Democracia é assim: não gosto da confusão, gosto da rosa democrática. 

Opinião de Adriana Dantas: A vida presta e a Justiça é mulher
Opinião de Adriana Dantas: A vida presta e a Justiça é mulher

Por Adriana Dantas - 06/10/2025 18:38:32 | Foto: "Esse julgamento entra para a história não só do Brasil, mas também como espelho para o mundo" - Luiz Silveira/STF

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Acompanhamos em setembro o julgamento de Jair Messias Bolsonaro e de mais sete réus da trama golpista com alegria, atenção e certa apreensão. E para mim, ele se dividiu em três grandes atos:

1. O início esperançoso

Nos dois primeiros dias, ouvimos a apresentação da denúncia pelo procurador Paulo Gonet, sua fala revelou não apenas a trama golpista, mas também a omissão de quem o antecedeu na PGR e a corrosão institucional vivida no país no último governo. Em seguida, vieram os primeiros votos. O ministro Alexandre de Moraes, que votou pela condenação de Jair Bolsonaro e dos outros sete réus por todos os crimes apontados pela Procuradoria-Geral da República: tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; tentativa de golpe de Estado; organização criminosa armada; dano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Seu voto teve duração de cinco horas e dezenas de slides , demonstrando em detalhes como a organização criminosa atuou, deixando claro o papel de Bolsonaro como líder.

Logo depois, o ministro Flávio Dino reforçou esse entendimento e acompanhou o relator, votando também pela condenação de todos os réus nos mesmos crimes.

2. O tropeço vergonhoso

No terceiro dia de julgamento, veio o voto de Luiz Fux. Já não esperávamos muito do seu voto, mas ele conseguiu surpreender. Foram quase treze horas de fala, uma maratona cansativa, incoerente e frustrada, na qual defendeu a absolvição da maioria dos réus, inclusive de Bolsonaro, chegando a sustentar que o STF seria incompetente para julgar o caso. Seu voto não apenas tentou inocentar, de forma irresponsável, o chefe da organização criminosa, como também soou como submissão aos EUA, desqualificando o Supremo.

3. A retomada da esperança

Então veio o quarto dia, em que renovamos a esperança na voz de uma mulher, o voto da ministra Cármen Lúcia trouxe firmeza, serenidade e precisão cirúrgica nas palavras, transformando passado, presente e futuro em um só tempo. Alinhada ao relator, seu voto formou maioria para condenar toda a quadrilha!

Por fim, a cereja do bolo: o voto do ministro Cristiano Zanin, alvo de ameaças anos atrás justamente por defender o Presidente Lula da prisão política de 2018. Zanin votou integralmente com o relator e destacou organização estruturada e violenta da trama e em resposta às críticas do Ministro Luiz Fux, afirmou que o julgamento pela primeira turma do STF não era “ativismo judicial”, mas sim um ato de responsabilização e dentro da função constitucional dele.

Bom, agora temos nosso 11 de setembro!

O peso histórico

Esse julgamento entra para a história não só do Brasil, mas também como espelho para o mundo, ao impor uma derrota importante à necropolítica e ao neofascismo mundial. Ele também demonstra e constata o óbvio: Bolsonaro nunca foi um bom militar, tampouco deputado e presidente exemplar. Mas um criminoso, que se cercou de outros criminosos para dar asas à sua imaginação machista, homofóbica e violenta. Não gosto de falar em demônios, mas toda a sua trajetória, sobretudo na presidência, parece ter sido um palco para libertar aqueles que sempre o atormentaram . Mas como diz a música: aqui é Brasil, p****!

Setembro, o mês da Rosa Democrática

Por fim, a constatação mais bonita: o mês mais justo e mais lindo é setembro.

Foi tempo de sentir os cheiros das rosas, ou melhor, da Rosa da Democracia. Como contou a ministra Cármen Lúcia em coletiva no TSE, em outubro de 2024, recordando sua infância ao lado dos pais, dizendo o quanto sua mãe se dedicava no cuidado com as roseiras, apesar das chacotas do pai. E então complementou seu raciocínio com parte da resposta da mãe ao marido: “ Eu tenho um quintal e gosto de roseira. Vou continuar plantando e cuidando dela todos os dias. Democracia é assim: não gosto da confusão, gosto da rosa democrática. E continuarei cuidando, como todo mundo que seja responsável por este canteiro chamado Brasil. Porque erva daninha cresce sem cuidado. Roseira, não.”

Viva a Democracia, viva nosso povo, viva nosso País, Brasil!

*Adriana Dantas é educadora popular

** Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato DF.

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Editado por: Flavia Quirino

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