‘Bolsonaro sintetiza o que há de pior na história do Brasil’, diz historiador Lindener Pareto

Professor afirma que autoritarismo marca a formação do Brasil desde o Império

‘Bolsonaro sintetiza o que há de pior na história do Brasil’, diz historiador Lindener Pareto
‘Bolsonaro sintetiza o que há de pior na história do Brasil’, diz historiador Lindener Pareto

Por adele Robichez e rodrigo Vianna - Portal Bdf - 05/07/2025 21:26:52 | Foto: Ex-presidente Jair Bolsonaro em julgamento sobre trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) - Antonio Augusto/STF

O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e generais aliados por tentativa de golpe marca um momento inédito na história republicana do Brasil, mas não necessariamente representa um rompimento com o passado autoritário do país. A avaliação é do historiador Lindener Pareto ao BdF Entrevista , da Rádio Brasil de Fato.

“Poderíamos resumir a história do Brasil como esse fio da navalha constante, mas que, pensando em 200 anos do Estado-nação, sempre pendeu para um profundo abismo reacionário”, afirma Pareto. Ele lembra que o país foi construído sob golpes, repressão e conservadorismo, desde a Independência, em 1822, passando pelo Império, República, ditaduras e chegando ao bolsonarismo.

“O Brasil não só é o país do golpe, porque são golpes, inclusive na época da monarquia, não só da República, que se configura como golpista, reacionário e ultraconservador desde sempre. Começa com a Constituição, a primeira em que o Dom Pedro I dá um golpe e fecha a Constituinte”, relata o pesquisador.

Segundo ele, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) é uma expressão contemporânea dessas continuidades históricas. “Bolsonaro sintetiza a história inteira do Brasil. Ele representa as permanências da escravidão, as permanências patriarcais, o autoritarismo das Forças Armadas Brasileiras, a misoginia brutal que marca a história desse país. Ou seja, ele consegue sintetizar tudo o que há de pior na história nacional”, declara.

Para o historiador, o momento atual revela uma tensão histórica: ao mesmo tempo em que há o ineditismo de um julgamento civil por tentativa de golpe, também persiste o risco de retrocesso. “Nem tudo é tão novo quanto parece”, diz Pareto. “Bolsonaro não é uma surpresa, ele é o grito distrator de uma história estrutural que permanece e não cessa de passar”, lamenta.

O Supremo Tribunal Federal (STF) tornou réus Bolsonaro e mais 30 aliados por tentativa de golpe de Estado. A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) aponta que o ex-presidente participou de um plano para tentar reverter o resultado das eleições de 2022, que inclui articulações com militares, minuta de decreto golpista e disseminação de fake news para desacreditar o sistema eleitoral, e até o assassinato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ministro do STF Alexandre de Moraes.

Além da herança autoritária no Brasil, Lindener Pareto também fala no programa sobre a precarização do trabalho. Para ele, “na história de todo o capitalismo, sobretudo ali com a revolução industrial, o trabalho para a classe trabalhadora, obreira, sempre foi precarizado”. “Nunca houve uma hegemonia de uma classe trabalhadora no mundo que conseguisse, de fato, não ser precária. […] Ela não foi tão precária na Europa porque ela estava precarizada em outras partes”, indica.

Para ouvir e assistir

O BdF Entrevista vai ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo. No YouTube do Brasil de Fato o programa é veiculado às 19h.

Editado por: Thalita Pires

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