O desafio estrutural para os próximos anos
Por João Zisman - Hojepr - 22/11/2025 17:55:39 | Foto: João Zisman - HojePR
Os indicadores oficiais produzidos pelos principais institutos brasileiros mostram que Foz do Iguaçu avançou economicamente ao longo das últimas duas décadas, mas não conseguiu transformar esse dinamismo em evolução social consistente. A cidade cresceu em renda e atividade econômica, porém registrou oscilações relevantes em educação e saúde. A leitura das séries históricas evidencia que o problema central não está na falta de potencial, mas na ausência de continuidade administrativa e na instabilidade política que marcaram os últimos vinte anos.
O retrato do IPDM: desempenho irregular nas áreas mais sensíveis
O IPDM, Índice Ipardes de Desempenho Municipal, sintetiza o desempenho dos municípios paranaenses em renda e emprego, educação e saúde.
Painel oficial: https://www.ipardes.pr.gov.br/Pagina/Indice-Ipardes-de-Desempenho-Municipal
Os dados mais recentes mostram Foz em posição inferior à de cidades do entorno regional nas três dimensões. O ponto crítico aparece justamente onde políticas públicas exigem estabilidade, continuidade e planejamento prolongado. As curvas de saúde e educação apresentam variações significativas ao longo do tempo, sem ciclos longos de crescimento regular.
Essa irregularidade indica que programas essenciais foram interrompidos, reorientados ou recomeçados repetidas vezes, impedindo resultados mais robustos.
O IFDM confirma a assimetria entre economia e desenvolvimento social
O IFDM, Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, utiliza bases federais de saúde, educação e emprego e renda.
Base oficial: http://www.firjan.com.br/ifdm
A trajetória de Foz revela desempenho econômico sólido, mas evolução social lenta. Emprego e renda seguem tendência positiva. Já saúde e educação mostram oscilações persistentes, o que reforça a leitura de descontinuidade administrativa. Municípios com estabilidade institucional tendem a apresentar curvas ascendentes mais regulares. Em Foz, os avanços aparecem, mas são seguidos de períodos de estagnação.
O IDHM avança, porém sem salto estrutural
O IDHM, elaborado por PNUD, IBGE e IPEA, mostra que Foz progrediu entre 2000 e 2010, especialmente em renda e longevidade.
Fonte oficial: http://www.atlasbrasil.org.br
O componente educacional, porém, continua sendo o mais lento. O Censo 2022 reforça que, embora haja melhoria, ela é menos acelerada do que seria possível para uma cidade com a posição estratégica e a dinâmica econômica de Foz. O avanço existe, mas não rompe um novo patamar.
O PIB revela força econômica que não se converteu na mesma proporção em qualidade de vida
O PIB Municipal, calculado pelo IBGE, confirma crescimento contínuo impulsionado pelo turismo, pelos serviços e pela integração fronteiriça.
Painel oficial: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/contas-nacionais/9088-pib-dos-municipios.html
Mas crescimento do PIB não é, por si só, sinônimo de desenvolvimento. A distância entre a evolução econômica e os índices sociais indica que a cidade não conseguiu transformar sua força produtiva em melhorias equivalentes em educação, saúde e estrutura social.
Dados de saúde e educação mostram instabilidade operacional
Os sistemas federais registram oscilações importantes.
Saúde – Ministério da Saúde (e-Gestor): https://egestorab.saude.gov.br
Educação – INEP (fluxo escolar, avaliação, distorção idade-série): https://www.gov.br/inep
Essas oscilações atingem áreas que dependem de políticas contínuas. Programas de atenção primária, alfabetização, correção de fluxo e melhoria da aprendizagem demandam anos de implementação. Variações sucessivas indicam fragilidade na capacidade de manter diretrizes de longo prazo.
Instabilidade política e administrativa deixou marcas mensuráveis
Os indicadores não registram diretamente instabilidade política, mas seus efeitos aparecem nas curvas. Entre 2005 e 2025, Foz vivenciou cassações, eleições suplementares, reorganizações administrativas frequentes e trocas abruptas de comando. Esses eventos estão documentados em decisões judiciais e atos oficiais.
Cada interrupção enfraqueceu a continuidade de programas e comprometeu a maturação de políticas públicas essenciais. Políticas que deveriam atravessar gestões foram repetidas vezes substituídas antes de consolidar resultados.
O denominador comum dos índices: falta de continuidade
As séries históricas convergem em três constatações fundamentais:
Foz do Iguaçu cresceu, mas aquém do seu potencial.
A cidade mantém um dos ambientes econômicos mais dinâmicos do Paraná, mas não converteu esse dinamismo em evolução proporcional de seus indicadores sociais.
As áreas de saúde e educação sofreram com oscilações sucessivas.
Isso explica por que, mesmo com crescimento econômico, os índices sociais de Foz evoluíram de forma irregular.
A continuidade administrativa esteve ausente.
Instabilidade institucional e sucessivas mudanças de rota impediram que políticas públicas se consolidassem ao longo do tempo.
O desafio estrutural para os próximos anos
Foz chega ao final de 2025 com uma economia sólida, mas com desequilíbrios sociais que refletem duas décadas de fragmentação administrativa. O ciclo iniciado em janeiro de 2025 avançou enfrentando esse conjunto de tensões históricas. A superação desse quadro não depende apenas de novos programas, mas de uma mudança estrutural no modo como a cidade organiza e preserva suas políticas públicas.
Saúde e educação exigem períodos longos de estabilidade técnica, planejamento contínuo e metas claras baseadas em dados oficiais. Sem esse arcabouço, os indicadores tendem a repetir o mesmo padrão de avanços pontuais seguidos de estagnação.
Há outro componente que atravessa toda a trajetória recente da cidade. Foz possui forças políticas ativas, porém frequentemente dispersas. A incapacidade histórica de criar pactos mínimos em torno de prioridades comuns contribuiu para ciclos de descontinuidade e dificultou a construção de políticas duradouras. Sem um grau básico de convergência entre os principais atores locais, qualquer governo, de qualquer orientação, tende a enfrentar o mesmo padrão de instabilidade.
Os próximos anos indicarão se Foz conseguirá transformar seu potencial econômico em avanço social consistente. Os indicadores apontam onde estão as fragilidades e também sugerem o caminho: continuidade, estabilidade e capacidade de construir entendimentos mínimos em prol da cidade.
Comentários para "Foz do Iguaçu: Vinte anos de instabilidade e o que os indicadores oficiais revelam sobre a cidade":