Das guerras à tentativa de golpe no Brasil, extremos marcaram 2023

O planeta andou na corda bamba, em equilíbrio delicado e permanente

Das guerras à tentativa de golpe no Brasil, extremos marcaram 2023
Das guerras à tentativa de golpe no Brasil, extremos marcaram 2023

Revista Veja - 26/12/2023 10:21:59 | Foto: Golpistas escalam estátua da Justiça, em frente ao prédio do STF, na Praça dos Três Poderes. Crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Em um de seus mais belos livros — Era dos Extremos — O Breve Século XX —, o historiador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) circunscreveu aquele tempo entre o início da I Guerra Mundial, em 1914, e a derrocada da União Soviética, em 1991. “Não sabemos o que virá a seguir, nem como será o segundo milênio, embora possamos ter certeza de que ele terá sido moldado pelo Breve Século XX”, escreveu. Não seria exagero dizer, de mãos dadas com a inteligente percepção de Hobsbawm, que 2023 moldará o que teremos em 2024 e nos anos vindouros. Foram doze meses de extremos, de permanente teste de limites da civilização — um período que bebeu do passado recente, sem dúvida, mas, dados os desafios postos agora (uns vencidos, outros longe disso), pavimenta um amanhã instigante. Vale, como frase a ser puxada pela memória, o comentário do filósofo francês Paul Valéry (1871-1945): “O problema do nosso tempo é que o futuro não é mais como era antigamente”.

Um cuidadoso mergulho nos humores de 2023 ilumina o pêndulo de uma temporada mercurial, em que parece ter valido tudo, menos a neutralidade. Um tempo de marcos radicais. O ano começou com a estupidez golpista dos cidadãos de camisa amarela no infame 8 de Janeiro em Brasília. Uma horda de radicais bolsonaristas, incomodados em ver Lula na Presidência, depredou os edifícios da Praça dos Três Poderes. Seria risível, não fosse trágico, na forma de ameaça para a democracia — felizmente debelada e depois levada a julgamento no STF. Do outro lado do mundo, não bastasse o andamento dos ataques da Rússia de Putin contra a Ucrânia, iniciados em 2022, o dia 7 de outubro registrou um outro momento de exacerbação, das fronteiras morais levadas ao precipício. O ataque dos terroristas do Hamas contra Israel, com resposta imediata e virulenta, voltou a incendiar o Oriente Médio e deixou o mundo tenso como havia muito não se via. Parece não haver dúvida: entre uma data e outra, o dia 8 de janeiro no Brasil e 7 de outubro em Israel, teria acontecido um “breve 2023”. Com o olhar estrito, reafirme-se, de Hobsbawm, que nunca apagou o que tinha ocorrido antes de 1914 e que jamais teve a ambição de decretar algum fim da história em 1991, como se grandes eventos fossem capazes de parar a roda das relações entre as nações. Não são.

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